PADRE CARLOS BOEGERSHAUSEN

O apóstolo de Joinville

Pe. Carlos Boegershausen - APL

Pe. Carlos Boegershausen – APL

Durante 94 anos Joinville foi pastoreada por três gigantes apostólicos e espirituais: Carlos Boegershausen (1859-1906), Pe. José Sundrup (1906-1917) e Pe. Gercino Santana de Oliveira (1917-1953). Foram padres cujo único interesse foi a vida das ovelhas e a Igreja. Lembrá-los é testemunhar gratidão.

Carlos José Leopoldo Boegershausen nasceu em Duderstadt, Hannover, em 16 de agosto de 1833, de pais camponeses. Órfão de pai muito cedo, foi assumido pelo tio, Pe. Karl, em Hildesheim. Vocacionado, ali estudou filosofia e teologia, sendo ordenado presbítero em 12 de junho de 1857 por Dom Eduard Jakob Wedekind, bispo de Regensburg.

Trabalhando no Seminário de Hildesheim, foi informado por Dom Eduard que a Companhia Colonizadora de Hamburgo já em 1849 havia solicitado um padre para o atendimento aos colonos da Colônia Dona Francisca-Joinville, sem êxito. O “sim” de Pe. Carlos foi imediato. Preparou-se cursando enfermagem num hospital, aprendeu a cozinhar, reuniu pequena biblioteca e, em 25 de agosto de 1859, embarcou para o Brasil, sendo acompanhado do Dr. Wigand Engelke, seu colega de escola e primeiro médico da Colônia Dona Francisca.

O veleiro Lucie Caroline alcançou o porto de São Francisco em 11 de novembro, e ali foi recebido pelo pároco Pe. Benjamim Carvalho de Oliveira. A primeira conversa foi em latim, pois ninguém do veleiro conhecia português. No dia seguinte, houve a recepção oficial pelo povo do lugar e colonos joinvilenses. Joinville tinha 1700 moradores, dos quais 400 católicos.

Igreja e escola, centro da vida paroquial

Apenas chegou e Pe. Carlos já sabia o que fazer: transformou um quarto da casa paroquial em capela. A primeira igreja tinha sido iniciada em 2 de dezembro de 1857, e inaugurada dez anos depois.

O trabalho era árduo, pois poucas famílias habitavam a território urbano, estando a maioria espalhada pela imensa área rural da colônia. Além disso, algo hoje inimaginável, atendeu São Pedro de Alcântara, São Pedro Apóstolo de Gaspar e Blumenau.

Sabendo da importância do ensino para a vida e a catequese, já em 1857 abriu uma Escola Paroquial, sendo auxiliado por Dr. Wigand.

Em 1860, uma agradável surpresa: chegava o Pe. Alberto Francisco Gattone, ex-colega de ginásio. Tendo para isso Faculdades recebidas do bispo do Rio de Janeiro, Pe. Carlos nomeou-o para Gaspar e a incipiente Colônia Brusque. No mesmo ano chegou o Pe. Guilherme Roer, nomeado para a Colônia Teresópolis e que o ajudava em Blumenau, Gaspar e São Pedro. Pe. Roer foi o apóstolo de Teresópolis e dos colonos do Braço do Norte. Para melhor atender às comunidades vizinhas, Pe. Carlos se servia do precioso auxílio dos jesuítas missionários de Nova Trento.

Em 1876, chegou o Pe. José Maria Jacobs, homem culto e poliglota, que Pe. Carlos nomeou para primeiro pároco de São Paulo Apóstolo de Blumenau.

Organização, patrimônio e Escola

Pe. Carlos Boegershausen - 1905

Pe. Carlos Boegershausen – 1905

Pe. Carlos Boegershausen era organizador nato. Preocupado com o patrimônio da paróquia, criou o Conselho de Fábrica e introduziu uma lista de contribuições de cada católico, e que vigorou por 25 anos. Com essa entrada e o salário que recebia do Governo, a côngrua, adquiriu terrenos situados ao redor da igreja matriz, onde estabeleceu o Cemitério, a casa do coveiro e a sede da Sociedade Católica/Associação, formada em 1885: tinha espaço para sala de reuniões, biblioteca, cozinha, poço e paiol.

Comprou e doou para o Município grande terreno para um Hospital, com a condição de, no tempo oportuno, ser entregue a Religiosas, o que aconteceu em 1906, com a chegada das três primeiras Irmãs da Divina Providência.

Escola foi sua grande obra e preocupação. Pe. Carlos nela marcava presença diária das 8 às 12h. Nas duas séries inferiores, o fazia mensalmente. Lecionava nas séries superiores. Inicialmente, funcionava em diversas casas alugadas. Depois, em troca da doação de terreno para a Câmara Municipal, ganhou a construção de ótimo edifício onde funcionavam os Cursos Primário e Complementar. Em 1864 contava com 200 alunos, chegando a 400 em pouco tempo. Nesse ano, houve a inspeção do Presidente da Província, Francisco Carlos de Araújo Brusque. Ficou tão impressionado que nomeou Pe. Carlos Professor Público Vitalício, com a faculdade de designar auxiliares. Depois Pe. Carlos transferiu a Escola para o Município, ficando Joinville sem escola católica. O vácuo será preenchido pelo Pe. José Sundrup que a instituiu e que hoje é o Colégio Santos Anjos.

Uma vida doada para o rebanho

Mas, nada era anteposto à sua solicitude pastoral. Todas as manhãs, às 6h, dirigia-se à igreja, e celebrava às 6:30h. Às 8h, trabalho escolar. A partir das 14h, estava disponível para o atendimento na Casa paroquial. Pela tarde, visitava os doentes mais próximos da igreja. O Sacramento da Extrema-unção deixava para as 4 ou 5h da manhã! Antes de jantar, rezava o Breviário e fazia 30-45 minutos de meditação diante do sacrário. A partir das 20:30h, dedicava-se à leitura e ao estudo. Suas refeições eram muito frugais, fazendo exceção apenas quando chegavam visitas. Essa rotina foi seguida até a morte.

Pe. Carlos Boegershausen

Pe. Carlos Boegershausen

Nas quartas e domingos, celebrava a Missa às 10h: quando chegavam moradores “brasileiros”, pregava em português e depois em alemão. Das 10:30h ao meio-dia reunia as crianças na Casa paroquial para o ensino do Catecismo, Liturgia e História da Igreja. Após a Missa matutina ministrava, uma conferência na Associação Católica e conversava com os participantes. Nas tardes de domingo, às 14h, Catequese para todos, na igreja.

Em 1905 recebeu como coadjutor o Pe. José Sundrup: como ele achava que não necessitava de auxiliar na cidade, Pe. Sundrup foi designado para o interior da paróquia. Por pouco tempo, pois chegava ao final a jornada de Pe. Carlos.

Contra sua vontade, Pe. Boegershausen foi ficando velho. No final de 1906, sofreu diversos ataques que o prostraram no leito, mas continuando a se inteirar da vida paroquial.

Pe. Sundrup ministrou-lhe os últimos Sacramentos e o grande apóstolo de Joinville entregou a vida ao Senhor às 15:15h de 12 de dezembro de 1906, aos 73 anos de idade e 47 de total dedicação à Igreja de Joinville.

Amou o Brasil, tendo recebido a cidadania brasileira em 1860. Seus restos mortais com justiça repousam justamente na Catedral de São Francisco Xavier. A ele e às suas economias – nunca reteve algo para si – Joinville deve a Paróquia, o Colégio, o Hospital, o Cemitério, o patrimônio. Um apóstolo cuja contribuição foi necessária para conservar unidos e evangelizados os católicos da nova colonização.

(Há ótimo texto, passível de correções, sobre o Pe. Carlos, escrito pelo Pe. E. Schätte e traduzido pelo Pe. Elói D. Koch, scj – Blumenau em Cadernos, Tomo XLVII, no. 03/04 – 2006).

Pe. José Artulino Besen

  1. #1 por Solange Winter Kiyohara em 26 de fevereiro de 2011 - 18:57

    Este senhor que foi tão importante para nossa sociedade, Padre Carlos Boegershausen, é parte de nossa família e história. Seu irmão, que também veio junto da Alemanha, foi quem gerou a família de minha mãe. Era, se não me engano, tio (3ª geração). Padre Carlos foi quem abençou o casamente do seu irmão com uma brasileira de Guaratuba, PR.

    • #2 por geane Elizabete de Souza em 6 de janeiro de 2019 - 21:10

      Esse padre José Carlos Boegershausen era meu tio avô. Era irmão do pai da minha vó Helena.

    • #3 por Geane Elizabete de Souza em 6 de março de 2021 - 16:13

      Esse padre José Carlos Boerguersauzen era ti da minha avó Helena ele veio com um irmão da Polônia pro Brasil um virou padre e o outro casou se com a minha avó Helena

  2. #4 por Nicácio Tiago Machado em 7 de janeiro de 2012 - 10:34

    Senhor Pe. Artulino Besen,

    Para nós, colegas de seminário, apenas Besen. Acho que tratávamos você assim, porque o sobrenome é muito forte.

    Besen, sou Nicácio Tiago Machado, leciono língua portuguesa em colégio e faculdade particulares, mas escrevo sobre outros assuntos, sobre os quais faço rigorosa pesquisa. Um deles é História de Joinville.

    Foi por essa razão é que, garimpando sobre a vida do Padre Carlos, cheguei a sua página.

    Confesso que me favoreci de sua preciosa pesquisa sobre o epigrafado.

    Aproveito, então, para pedir permissão para o uso do conteúdo de sua pesquisa; para parabenizá-lo sobre sua bela página na Rede, com assuntos tão interessantes expostos de forma tão agradável e didática; e, por último, para dizer exatamente, que pelas razões acima, passei a ser seu leitor.

    Respeitosamente,

    Abraços do seu amigo de seminário,

    Prof.: Nicácio

  3. #5 por José Artulino Besen em 16 de janeiro de 2012 - 14:09

    Nicácio,
    uma grande alegria receber notícias suas após tantos anos – desde 1971.
    Obrigado pela leitura e aproveite os textos como desejar.

  4. #6 por Antônio Roberto Nascimento Nascimento em 21 de março de 2013 - 22:34

    Sr. Padre J. A. Besen: De fato, o Padre Carlos foi exemplar pároco de Joinville. Além disso, pode ser tido como grande educador das crianças joinvilenses. Creio que o irmão dele veio depois e se estabeleceu em Guaratuba (Rio do Pai Paulo), onde montou serraria auxiliado pelo Padre Carlos. Aceite meus cumprimentos pela excelente biografia. Antônio Roberto Nascimento – Joinville – SC.

  5. #7 por ana vanali em 22 de maio de 2014 - 00:21

    Gostaria de saber a data de nascimento e de falecimento do Padre Benjamim Carvalho de Oliveira.

    • #8 por José Artulino Besen em 18 de fevereiro de 2015 - 08:42

      Ana, peço desculpas por não ter-lhe respondido antes. Não tenho a data de nascimento de Pe. Benjamim, mas da morte, sim: 27 de maio de 1867 em Dona Francisca. Teve 4 filhos com Joaquina de Jesus Maria.

  6. #9 por ana vanali em 26 de fevereiro de 2015 - 17:01

    obrigada pelo retorno

  7. #10 por Emilia da Rosa Borges em 24 de junho de 2015 - 15:56

    Meu filho fez o jardim no Bakita as madres gostaria q continuasse os estud os escola catolica.onde tem endereço

  8. #11 por sarah boegershausen em 14 de março de 2018 - 20:58

    Muito bom ver que alguém fez uma biografia de alguém da minha família

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