PADRE GUILHERME ROER

Apóstolo e Fundador de Comunidades

Padre Guilherme Roer – Apóstolo e Fundador de Comunidades

Padre Guilherme Roer – Apóstolo e Fundador de Comunidades (foto de 1880)

Guilherme Roer nasceu em Warendorf, Alemanha, em 1821, numa família de relojoeiros e joalheiros. Mais tarde seus pais mudaram-se para Münster. Foi ordenado presbítero em Hildesheim, em 1857.  Querendo consagrar-se aos compatriotas emigrados, chegou ao Brasil em 1860, sendo encaminhado pelo bispo do Rio de Janeiro ao Pe. Carlos Boegershausen, recém chegado em Joinville.

Em 1860 dirige-se a Vargem Grande, e fixa residência em Teresópolis, donde será Cura de seis de março de 1862 até 1889. Mesmo com todo o trabalho nessa grande e difícil região, em 1870 foi vigário encarregado de São Pedro Apóstolo de Gaspar, ofereceu atendimento pastoral aos colonos alemães de Blumenau de 1869 a 1872 e, de 1872 a 1883, foi vigário encarregado de São Pedro de Alcântara.

A serviço dos imigrantes alemães de Teresópolis

Nos anos 1860-1863 chegaram a Santa Catarina famílias de agricultores vestfalianos e foram assentados em Teresópolis e na sua extensa região serrana. Posteriormente 12 famílias mudaram-se para Blumenau, no vale fértil do Testo, onde construíram a capela de São Ludgero e ali foi visitá-los o Pe. Roer.

A região de Teresópolis e de Vargem Grande, como a de São Pedro de Alcântara, não era de terra fértil. A chegada do Pe. Roer animou esses colonos espiritual e economicamente. Pe. Roer era um homem prático: plantou uma horta para servir de modelo aos colonos e, no andar térreo da casa paroquial, instalou uma oficina, onde exercitava as habilidades adquiridas na casa paterna: fazia os relógios novamente funcionarem, no torno mecânico fabricava castiçais de madeira, cruzes, molduras para quadros e sacras do altar.

Era um padre profundamente piedoso: persuadia os colonos no cultivo da verdade, concórdia e amizade sincera, virtudes típicas das boas famílias católicas. Introduziu o Culto dominical dirigido por leigos, criando a tradição dos Capelães que dirigiam o Culto, celebravam sepultamentos, organizavam o coral. Para garantia do bom atendimento, nomeava os melhores homens para a Diretoria das igrejas. Procurou logo organizar escolas paroquiais cujos professores eram colonos mais instruídos.

Algumas visitas aos enfermos demandavam dias a cavalo: nunca se omitia. Algumas vezes por anos visitava os colonos alemães de São Pedro e Biguaçu, numa viagem de 8 a 10 horas a cavalo. Fadiga não era argumento para omissão.

Colonizador de horizontes largos

Em 1870, Pe Guilherme Roer foi chamado a um doente no quase despovoado Braço do Norte, da paróquia de Tubarão, com dois dias de viagem pela mata, através de veredas. No regresso percebeu como aquela terra era fértil. No primeiro encontro com os colonos em Teresópolis falou-lhes com entusiasmo das terras que vira. Formou uma comissão de ordem prática, para preparar uma possível migração dessa comunidade para o Braço do Norte. Sob a direção de Bernardo Schlikmann, um pequeno grupo dirigiu-se àquela terra, retornando cheio de entusiasmo, quase reproduzindo a bíblica inspeção dos judeus às portas de Jericó. Houve muitas adesões.

Pe. Roer, prático e organizado, visitou o Pe. Boegershausen em Joinville, de quem recebeu o consentimento para a nova migração e uma carta de recomendação dirigida às autoridades da Província. Em seguida foi ao Desterro (Florianópolis) e obteve êxito junto aos Ministérios. Com essas recomendações embarcou para o Rio de Janeiro, obtendo audiência com o Imperador Pedro II, bom conhecedor do alemão e amigo dos colonos alemães. Resultado: o Governo imperial doava 300 jeiras de terra (83.160 m2.) para cada família que se dirigisse ao vale do Braço do Norte, com facilidades de pagamento.

A colonização do Braço do Norte efetuou-se nos anos 1873-1875. O Governo provincial fez o traçado das estradas principais, a construção de pontes, a preparação dos centros urbanos para igrejas, escolas e medições de lotes.

Os colonos, por sua vez, deveriam procurar nos mapas dos agrimensores sua futura propriedade.

No terreno de Bernardo Schlickmann, sob uma frondosa figueira, foi erguido um altar, ornamentado por Ana Füchter (mãe do Pe. Nicolau Gesing, primeiro padre de Braço do Norte). Pe. Roer, em meio ao júbilo de todos, celebrou a primeira Missa. Pediu que preservassem a fé, os costumes e a língua alemã. E que participassem do Culto dominical.

Duas vezes por ano Pe. Roer passava algumas semanas com seus vestfalianos em Braço do Norte, garantindo que a fé conservasse a união dessas famílias lançadas num ambiente promissor, e ainda difícil, um ambiente também ocupado por índios, que enfrentaram os invasores: eram pobres diante de pobres.

O zelo pastoral, o cansaço e a doença

Um colono observou que Pe. Roer passava a maior parte do ano encima de uma sela de montaria. Viagens difíceis, com doenças, acidentes, para celebrar Missas, confessar doentes, catequizar. Dores reumáticas e gota minavam o já enfraquecido corpo do velho cura. Apesar disso, queria sempre levar os Sacramentos aos doentes, mas já necessitava de dois homens cavalgando em apoio para evitar quedas.

Na última viagem a Braço do Norte, em 1887, a doença o prostrou. Rezava a Missa uma ou outra vez e à noite sempre fazia uma oração comum, com breve mensagem. O corpo não acompanhava o zelo do sacerdote.

Reunindo as últimas forças, ainda enfrentou três dias para a viagem de retorno a Teresópolis. Então persuadiu o amigo Bernardo Steen a escrever ao bispo de Münster, expondo a situação dos colonos católicos e pedindo um sucessor para o Pe. Roer. Ao saberem da carta, os colonos de Teresópolis também escrevem uma carta ao Vigário Geral de Münster, assinada por M. Schmitz, em 14 de julho de 1889. Afirmam que Braço do Norte não tem condições de sustentar um padre, que pertence a Tubarão e que Teresópolis, sim, necessitava de um padre.

A carta, publicada no Jornal da diocese de Münster, teve resultado imediato: candidatou-se o jovem padre Francisco Xavier Topp, que viajou para o Brasil em 1889. Foi o grande presente de Deus para a Igreja catarinense que por mais de 30 anos nele encontrará um animador e organizador apostólico.

Pe. Topp não teve a graça de encontrar-se com o Pe. Guilherme Roer: em 1889 ele foi internado no ao Hospital São Francisco de Porto Alegre, recebendo as melhores atenções.

Foi ali que esse ardoroso apóstolo entregou a alma a Deus em oito de outubro de 1891, sendo sepultado no Cemitério São José.

Os colonos de Teresópolis não o esqueceram. No Cemitério local foi-lhe erguido um monumento, onde se lê, em alemão:

Em memória do 1º Vigário de Teresópolis,
Pe. Guilherme Roer.
Nascido em Warendorf, Vestfália, em 1821.
Morreu no Hospital São Francisco de Porto Alegre,
aos 8 de outubro de 1891.
Sacrificou-se pela Salvação das Almas de seus Paroquianos.

Obs.: Leia-se um ótimo texto em: Schätte, Estanislau, OFM. Padre Guilherme Roer – 1860/1889. Revista Blumenau em Cadernos, Tomo XLVIII, N.05-06 – maio/junho de 2007. Tradução de Pe. Dorvalino Koch, SCJ.

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