1. A conversão

Sê vigilante contigo mesmo para que não te afaste do amor de Deus algo daquilo que conduz à ruína. Domina teu coração e não te deixes vencer pela acídia; não digas: “Como poderei guardar meu coração se sou um homem pecador?” Na verdade, quando o homem abandona seus pecados e se volta para Deus, sua conversão o regenera e o faz todo novo.

Isaías Anacoreta,
A custódia da mente 22

Deus, bom e amigo dos homens, é longânime e espera com muita paciência a conversão de cada pecador; ele proclamou que o retorno de quem se arrepende é ocasião de festa no céu. Ele diz: “Há alegria no céu por um só pecador que se arrepende” (cf. Lc 15, 7.10). Se alguém, vendo essa bondade e longanimidade e como Deus não pune os pecados um por um, porque acolhe o arrependimento, como dissemos, se, portanto, alguém considera coisa pequena o mandamento e, acrescentando pecado a pecado, encontra na bondade uma ocasião para o próprio desprezo, montando uma armadilha e acrescentando negligência sobre negligência, esse completa a medida dos pecados e em seguida fica prisioneiro numa queda tal que dela não poderá mais recuperar-se; tinha novamente prometido a si mesmo uma contrição final, mas, como consente ao malvado até o fim, se perde.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 71

Quem se intromete nos pecados do outro ou julga o irmão na base na suspeita, ainda não começou nem a converter-se, nem a procurar e a reconhecer os próprios pecados, na verdade mais pesados do que um bloco de chumbo de muitos talentos, nem compreendeu de onde nasce o homem do coração pesado, que ama a vaidade e procura a mentira. Por isso, como um tolo, como um que caminha nas trevas (cf. Sl 81, 5), esquecido dos próprios pecados, vai fantasiando sobre os dos outros que são reais ou imaginários, concebidos na base de uma suspeita.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 3,55

No século futuro não seremos castigados porque pecamos, nem seremos condenados por isso, porque nossa natureza é volúvel e mutável. Mas seremos condenados porque, depois de ter pecado, não nos arrependemos, nem deixamos o caminho do mal para voltarmos ao Senhor, mesmo tendo recebido a faculdade de arrepender-nos e o tempo para fazê-lo, também com a finalidade de receber de Deus o bem e não o seu contrário, isto é, a paixão que se vinga e se encoleriza contra o mal em vez de contra nós. De fato, Deus está fora de toda paixão e vingança mesmo que se diga que se ajusta às nossas obras e às nossas disposições, como um espelho, retribuindo a cada um segundo seus méritos.

Teognosto,
Sobre a práxis 47

Se desde o princípio tivéssemos querido guardar os mandamentos e permanecer como quando fomos batizados, não teríamos acabado em tal estado nem teríamos necessidade das fadigas e da conversão. Mas, se o quisermos, a segunda graça de Deus, a conversão, pode reconduzir-nos à antiga beleza… Quando, pois, quisermos começar a retornar lá donde caímos, necessitaremos de muita fadiga porque não queremos abandonar nossas vontades, mas cremos poder ao mesmo tempo fazer a nossa vontade e a de Deus, o que não é possível. O próprio Senhor, de fato, disse: “Não faço a minha vontade, mas a do Pai que me mandou” (cf. Jo 6,38), se bem que única seja a vontade do Pai, do Filho e do Espírito, pois eles são uma única natureza indivisível. Mas disse isso por nós e em relação à vontade carnal. Se a carne não é assimilada (cf. 2Cor 5,4) e o homem inteiro não esteja sendo guiado pelo Espírito de Deus (cf. Rm 8,14), ele não faz a vontade de Deus sem esforço. Quando, porém, reina em nós a graça do Espírito, então não temos mais vontade própria, mas, aconteça o que acontecer, é vontade de Deus. Então ficamos em paz. Quem atinge esse estado é chamado filho de Deus (cf. Mt 5,9), pois quer a vontade do Pai, como o Filho de Deus e Deus.

Pedro Damasceno,
Livro I, vol. III, pp. 13-14

Se quiseres retornar em ti mesmo, homem, e retomar a glória que antes possuías, e que foi perdida por causa da desobediência, pois deixaste de lado os mandamentos de Deus e deste ouvido às ordens do inimigo e a seus conselhos, assim agora, renegando àquele a quem obedeceste, retorna ao Senhor. Saibas, porém que, como foi dito, retomarás a tua riqueza com muita fadiga e suor do rosto. Não te é conveniente uma aquisição do bem sem fadiga porque, após tê-lo recebido sem fadiga e sem suor aquilo que recebeste, destruíste, e entregaste ao inimigo a tua herança. Reconheça, portanto, cada um de nós o que destruiu e façamos nosso o lamento do profeta: “Na verdade, a nossa herança passou para outros e a nossa casa a estrangeiros” (Lam 5,2), porque desobedecemos ao mandamento e nos entregamos à nossa vontade e encontramos prazer em pensamentos vergonhosos e terrenos, de modo que agora a nossa alma está longe de Deus e somos semelhantes a órfãos que não têm pai. Quem cuida da alma deve lutar o quanto pode para destruir os maus pensamentos e todo o poder altivo que se ergue contra o conhecimento de Deus (2Cor 10,5); e junto àquele que faz violência a si para conservar imaculado o templo de Deus (cf. Tg 1,27) vem aquele que prometeu habitar e caminhar em nós (cf. Lv 26,12). Então a alma recebe sua herança e é feita digna de se tornar templo de Deus. Após ter expulsado com seu exército o maligno, Deus, enfim, reinará sobre nós.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 51

O efeito da conversão é o de lavar a mancha das ações vergonhosas. Depois disso tem-se a participação do Espírito Santo não simplesmente, mas segundo a fé, a disposição, a humildade daqueles que se convertem com toda a alma. Não só. Ela vem depois que se recebeu o perfeito perdão dos pecados daquele que é pai e o garante para nós. Por isso, é bom converter-se a cada dia devido ao mandamento que nos é dado; as palavras: Convertei-vos, o reino dos céus está próximo (Mt 3,2) aludem a uma ação nunca terminada.

Simeão o Novo Teólogo,
Capítulos práticos e teológicos 75

Vês a grandeza do amor de Deus pelos homens? No início não recorre a um justo julgamento contra nós que fomos desobedientes, mas tem paciência, dá-nos um tempo para o retorno: nesse tempo de paciência, nos dá, se o quisermos, o poder de sermos

feitos filhos seus (cf. Jo 1,12). Que entendo por ser feitos filhos? É estar unidos a ele e se tornar um só espírito com ele (cf. 1Cor 6,17); mas também nesse tempo de paciência, se caminhamos em sentido contrário e amamos a morte em vez da vida verdadeira, ele não nos retira o poder que nos deu. E não só não o retira, mas nos chama e, como na parábola da vinha (cf. Mt 20,1), sai à procura procurando-nos e reconduzindo-nos às obras da vida do amanhecer até o anoitecer de nossa existência. Mas, quem é que chama e dá a recompensa? O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e Deus de toda consolação (2Cor 1,3). Que é a videira que ele chama para trabalhar? O Filho de Deus que diz: Eu sou a videira (Jo 15,1). E ninguém pode ir a Cristo, como ele disse nos evangelhos, se o Pai não o atrair (cf. Jo 6,44). Quem são os ramos? Nós. Escuta-o ainda dizer: Vós sois os ramos, o meu Pai é o vinhateiro (Jo 15, 5.1). O Pai, portanto, reconciliando-nos por meio do Filho, não leva em conta nossos pecados (cf. 2Cor 5,19), nos chama não porque comprometidos com más obras, mas porque estamos ociosos. De resto, o ócio é um pecado e devemos prestar contas também de uma palavra ociosa (cf. Mt 12,36). Mas, como dizia, Deus, deixando de lado os pecados cometidos anteriormente, chama e torna a chamar.

Gregório Pálamas,
À monja Xênia, vol. IV, p. 96bc

A propósito da queda, disse Santo Isaac: “Não é quando caímos que devemos nos afligir, mas quando perseveramos na queda. Freqüentemente nos acontece cair, e acontece também com os perfeitos; perseverar na queda é e morte perfeita. A tristeza com a qual lamentamos as nossas quedas nos é computada pela graça como obra pura, mas quem se deixar cair uma segunda vez esperando converter-se, esse engana Deus. A morte o pega desprevenido e não alcança o tempo em que espera cumprir as obras da virtude” (Isaac de Nínive, Primeira coleção 50 – ed. Grega, Discursos 60).

Calisto e Inácio Xantopoulos,
Método 80

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  1. #1 por Alessandro Alle em 4 de dezembro de 2016 - 10:10

    Belíssimo trabalho.

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