9. Seguir Cristo

Aquele que, imitando o cego, jogou o manto e se avizinhou do Senhor (cf. Mt 10, 46-52), torna-se seu discípulo e arauto dos dogmas mais perfeitos.

Quando escutas o Senhor que diz: “Se alguém não renuncia a tudo o que possui não é digno de mim” (cf. Lc 14,33), não deves compreendê-lo como se referido somente às riquezas, mas também a todas as ações filhas do vício.

Não buscar a perfeição nas virtudes humanas pois nelas não se encontra a perfeição; a perfeição está escondida na cruz de Cristo.

Marcos o Asceta,
A lei espiritual 16; 31; 109

Não perderás nada que abandonaste pelo Senhor. A seu tempo tudo retornará multiplicado (cf. Mt 19,29).

Marcos o Asceta,
Sobre aqueles que se crêem justificados 50

Como a Mateus, o Senhor te diz: “Segue-me” (cf. Mt 9,9). Tu, portanto, prontamente seguindo o teu desejadíssimo Senhor, se ao longo do caminho da vida com teu pé tropeças na pedra de alguma paixão (cf. Sl 90,12), e inesperadamente cais em pecado, ou então, se muitas vezes, encontrando-te em lugares lodosos, involuntariamente escorregas e cais, por mais vezes que possas cair e procurar-te o mal, outro tanto te levanta prontamente, segue teu Senhor até alcançá-lo.

Quem verdadeiramente quer renunciar ao mundo, imite o bem-aventurado profeta Eliseu, que, nada tendo reservado para si (1Re 19,19-21), arde com viva paixão de amor a Deus. Deixe, portanto, todos os seus bens a quem deles precisa e assim carregue a cruz do Senhor, apresse-se no propósito de ir ao encontro da morte voluntária, buscando para si o reino eterno.

João Cárpato,
Aos Monges da Índia 44; 92

Quem possui em si mesmo o divino amor, não se cansa de seguir seu Senhor e Deus, como afirma o divino Jeremias (cf. Jr 17,16), mas suporta com generosidade a fadiga, a ofensa e violência sem a ninguém acusar por todo esse mal.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,28

Quem ama a Cristo, seguramente o imita também segundo suas forças. Cristo, por exemplo, jamais deixou de fazer o bem aos homens e, mesmo recompensado com a ingratidão e blasfemado, tinha paciência; açoitado e levado à morte, suportava, a ninguém imputando esse mal. Essas três coisas são as três obras do amor ao próximo; aquele que, sem elas, afirma amar Cristo ou possuir seu Reino, engana-se a si mesmo. Porque não é aquele que me diz: Senhor, Senhor!, que entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai (Mt 7,21), e mais: Quem me ama guardará meus mandamentos (cf. Jo 14,15).

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,55

Permaneçamos muito amarrados a Cristo, por causa daqueles que incessantemente lutam para roubá-lo da alma, para que Jesus não tenha que se retirar da imensidade de pensamentos que nela se encontram. Sem a fadiga da alma não é possível conservar Jesus fortemente amarrado a nós. Toquemos com a mão sua vida na carne para viver humildemente a nossa; permaneçamos ligados a seus sofrimentos para suportar as nossas dificuldades imitando-o; provemos seu inefável e misericordioso desígnio de salvação por nós para conhecer pelo doce sabor da alma que o Senhor é bom (Sl 33,9). Mas, acima de tudo isso, ou melhor ainda, antes de tudo isso, creiamos nele sem hesitação, naquilo que ele diz, esperemos cada dia sua providência que vem por causa de nós. E quando vem, acolhamo-la com ânimo grato, sem distração, de boa vontade, para que aprendamos a olhar somente a Deus, ele que a tudo provê com divinas palavras de sabedoria. E quando tivermos feito tudo isso, já não estaremos longe de encontrar Deus (cf. Mc 12,34).

Filoteu o Sinaíta,
Capítulos népticos 20

Muitos sobem na cruz do sofrimento, mas poucos aceitam também os cravos. Muitos aceitam submeter-se a fadigas e tribulações voluntárias, mas aquelas que chegam sem terem sido escolhidas, aceitam-nas somente aqueles que morreram perfeitamente para esse mundo e seu descanso.

Elias Presbítero,
Capítulos gnósticos 130

Quando o diabo esgotou todos os seus enganos, traz-nos um pensamento de desespero, nos sugere que aqueles eram outros tempos e outros eram os homens entre os que Deus tinha revelado suas maravilhas para que cressem. Agora, porém, não é um tempo em que é necessário se sacrificar: somos todos cristãos e temos o batismo! Diz a Escritura: Quem crer e for batizado, será salvo (Mc 16,16); de que mais temos necessidade? Mas, se nos deixamos convencer e permanecermos nesse estado, seremos privados de tudo e não teremos nada mais que o nome de cristãos; isso acontecerá se ignorarmos que quem creu e foi batizado deve observar todos os mandamentos de Cristo, e, uma vez observados, dizer: “Sou um servo inútil” (cf. Lc 17,10).

O Senhor disse aos Apóstolos: Ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei (Mt 18,20). Todo batizado renuncia dizendo: “Renuncio a Satanás e a todas as suas obras”. Mas, onde está a nossa renúncia se não aban

donamos toda paixão e pecado, como o diabo deseja? Mais: se não o odiarmos com toda a alma, e amarmos Cristo observando os seus mandamentos? Mas, como observaremos seus mandamentos se não renegarmos toda vontade pessoal e todo pensamento?

Pedro Damasceno,
Livro I, vol. III, pp.11-12

Quando uma mulher passa a viver com um homem, as coisas de ambos se tornam comuns e a casa é uma só, comuns os bens e haveres e ela se torna patroa não só daquilo que ele possui, mas também de seu corpo. O marido não é dono de seu corpo, mas a mulher o é (1Cor 7,4), diz o Apóstolo.

Assim também é a comunhão da alma com Cristo: ela se torna um só espírito com ele. Disso segue necessariamente que ela se torna como que dona de seus inefáveis tesouros, pois se tornou sua esposa. Depois que Deus se tornou seu, é claro que tudo o que é dele lhe pertence, quer o mundo, a vida, a morte, os anjos, os principados, quer as coisas presentes quer as futuras.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 124

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