4. O rancor e o ódio do irmão

Alguns não só guardam a ira até o por do sol devido à dureza e à loucura desse estado passional, mas a prolongam por mais dias, mesmo calando-se a respeito do outro e não conseguindo ainda expressá-la com palavras; mas, com seu silêncio acrescentam o veneno do rancor. Ignoram que não basta abster-se das manifestações da ira, mas também daquela que habita os pensamentos, a fim de que não aconteça que a mente, cega pelo rancor, perca a luz do conhecimento e do discernimento e seja privada da inabitação do Espírito Santo.

Cassiano o Romano,
Ao bispo Castor, vol. I, pp. 71-72

Quem odeia seu irmão é chamado de homicida (cf.1Jo 3,15); mata-o com a força de ódio dos seus pensamentos; os homens não vêm o sangue [da vítima] derramado com a espada, mas Deus o vê assassinado pela mente e pela íntima disposição de ódio, ele, que atribui a cada um as recompensas ou os castigos não somente pelas ações, mas também pelos pensamentos e decisões, como ele mesmo afirma pela boca do profeta: “Eis que eu venho para recolher suas obras e seus pensamentos” (cf. Sir 32,19).

Cassiano o Romano,
Ao bispo Castor, vol. I, pp. 73-74

Quem reza com sabedoria suporta aquilo que lhe acontece, mas, quem guarda rancor, ainda não rezou com pureza.

Marcos o Asceta,
A lei espiritual 113

Alegra-te não quando fazes bem a alguém, mas quando suportas sem rancor a aversão que dele sentes. Como as noites seguem aos dias, assim os males sucedem às boas obras.

Marcos o Asceta,
Sobre aqueles que se crêem justificados 137

Aqueles que acumulam tristezas e rancores são semelhantes àqueles que acham água e derramam-na num odre furado.

Nilo o Asceta,
Discurso sobre a oração 22

Esteja absolutamente afastada de tua alma a paixão do rancor, ó amigo de Cristo! Não dês espaço à inimizade, porque o rancor aninhado no coração é como fogo escondido no linho. Antes, reza vivamente por aquele que te fez sofrer e faz-lhe bem, se tua mão tem a possibilidade (cf. Lv 25,26), para libertar tua alma da morte (cf. Tb 4,10) e não te encontrares sem fé na hora da oração.

Teodoro, bispo de Edessa,
Capítulos 26

Quem vê no seu coração um vestígio de ódio por qualquer homem por causa de algum erro é completamente estranho ao amor por Deus, porque o amor por Deus não tolera, absolutamente, o ódio por um homem.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,15

A tristeza está unida ao rancor: quando a mente contempla o rosto do irmão com tristeza, está claro que guarda rancor contra ele. Os caminhos de quem guarda rancor conduzem à morte (Pr5 12,28) pois, todo aquele que guarda rancor, transgride a Lei.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 3,89

Se guardas rancor contra alguém, reza por ele e trabalharás a paixão que te agita, com a oração separando a tristeza da recordação do mal que [o outro] te fez. Tornado caridoso e misericordioso, cancelarás completamente da alma a paixão. Se, pelo contrário, um outro guarda rancor contra ti, sê generoso em relação a ele e humilde, e vive em paz com ele, e o libertarás da paixão.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 3,90

Não consideres munidos de bons sentimentos aqueles que te falam palavras que provocam em ti tristeza e ódio pelo irmão, mesmo se parecem dizer a verdade, mas expulsa-os como serpentes mortíferas para impedir-lhes de falar mal e para libertar tua alma da malvadeza.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,31

Em tempo de paz não recordes as palavras ditas pelo irmão no tempo da tristeza, quer essas coisas te tenham sido ditas na cara, quer tenham sido ditas a um outro e tu as tenhas escutado depois; não te aconteça de voltares a ter ódio funesto pelo irmão porque não suportas o rancor de teus pensamentos.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,34

Cristo não quer que tenhas ódio contra um homem, ou tristeza, ou ira ou rancor de algum modo e por alguma coisa deste mundo; isso gritam em toda parte os quatro Evangelhos.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,84

Assim como não é possível ver plantas aromáticas germinar na lama, assim também não o é o perfume da caridade na alma de quem tem rancor.

Talássio Líbico,
Sobre a caridade 1,16

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