10. A recordação de Deus

No momento em que te recordas de Deus multiplica as súplicas para que, quando te esqueceres do Senhor, ele se recorde de ti.

Cada sofrimento involuntário torne-se para ti mestre de recordação e não passará em vão uma ocasião de conversão.

Sem recordação de Deus não existe verdadeiro conhecimento porque, sem a recordação, o conhecimento é bastardo.

Marcos o Asceta,
A lei espiritual 25; 57; 147

A recordação de Deus é a fadiga que impõe o coração com vista a uma vida de oração. Mas, todos aqueles que esquecem Deus, se entregam aos prazeres e são insensíveis.

Se quiseres recordar-te continuamente de Deus, não rejeites como injusto aquilo que te acontece, mas suporta-o como se fosse justo. A paciência em todo acontecimento traz a recordação, mas a rejeição enfraquece os sentimentos espirituais do coração e, deixando continuar, produz o esquecimento.

Marcos o Asceta,
Sobre aqueles que se crêem justificados 131; 134

No início de teu progredir segundo Deus, ó filho, deves fazer isso: deves, sem nunca esquecer e conservando sempre viva a recordação dele, considerar em uma incessante meditação todos os dons da providência de Deus e os benefícios que Deus no seu amor pelo homem te concedeu e te concede para a salvação de tua alma. E não esqueças, cobrindo-te com o esquecimento da malícia ou, por causa da negligência, seus numerosos e grandes benefícios; por isso, não te aconteça transcorrer inutilmente o tempo que te resta e sem render graças. Essas recordações incessantes são como um punhal que fere o coração, movem-no sempre à confissão, à humildade, à ação de graças com alma contrita, a todo bom zelo; e oferecer ao Senhor modos e costumes bons e toda virtude segundo Deus, a meditar sempre com o puro sentir da consciência a palavra profética: Que oferecerei ao Senhor por tudo aquilo que me deu? (Sl 115,3).

Marcos o Asceta,
Carta ao monge Nicolau, vol. I, p. 128

Assim como as portas dos banhos continuadamente abertas rapidamente expelem o calor que há internamente, assim também a alma, quando quer falar muito, mesmo se o que diz é belo, dissipa a recordação através da porta da voz. Por isso, o coração fica privado dos pensamentos do Senhor e retorna na primeira ocasião o afluxo de pensamentos que se chocam um contra o outro, porque não possui mais o Espírito Santo para proteger a própria mente contra as fantasias.

Diadoco de Fótica,
Discurso ascético 70

Quem quiser purificar seu coração inflame-o incessantemente com a recordação do Senhor Jesus e seja isso seu único trabalho e ocupação incessante. Os que querem expulsar suas podridões não devem orar ora sim ora não, mas dedicar-se sempre à oração, protegendo as profundidades do coração mesmo se não residissem em casas de oração. Assim como quem quer purificar o ouro, se por um instante deixa apagar o fogo do cadinho, torna novamente dura a matéria purificada, assim, quem se recorda de Deus ora sim ora não, destrói com o ócio aquilo que lhe parece ter conquistado com a oração.

É próprio do homem que ama a virtude consumir com a recordação de Deus aquilo que existe de terreno em seu coração para que, depois que o mal foi pouco a pouco devorado pelo fogo através da boa recordação, a alma retorne a seu esplendor natural com uma glória maior.

Diadoco de Fótica,
Discurso ascético 97

O egoísmo, o amor pelo prazer e pela vanglória expulsam da alma a recordação de Deus. O egoísmo é a mãe do males sem limites. Quando se enfraquece a recordação de Deus, o tumulto das paixões fixa em nós sua morada.

Teodoro, bispo de Edessa,
Capítulos 92

Há em nós uma luta espiritual mais dura do que a sensível. Quem se dedica à vida espiritual deve se apressar e procurar o objetivo (cf. Fl 3,14) no profundo de seu coração para colocar totalmente em segurança, como uma pérola ou uma pedra preciosa (cf. Mt 13, 45-46), a recordação de Deus. E é necessário renunciar a tudo, também ao corpo, desprezar também a vida presente para possuir somente Deus no coração. Diz o divino Crisóstomo que é suficiente a visão de Deus no profundo do coração para destruir os espíritos malignos (João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de João 3,1).

Filoteu o Sinaíta,
Capítulos népticos 1

Onde se encontram a humildade e a recordação de Deus despertos pela sóbria vigilância, pela atenção e freqüente oração elevada contra os inimigos, lá, na verdade, está o lugar de Deus (cf. Gn 28,16), isto é, o céu do coração no qual o exército dos demônios tem medo de permanecer, por causa de Deus que ali reside.

Filoteu o Sinaíta,
Capítulos népticos 4

O que humilha fortemente o pensamento e o dispõe a voltar os olhos para a terra é também a recordação dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, cada um no seu gênero; pensados e chamados à memória com a recordação, eles também geram lágrimas. Humilham verdadeiramente a alma também os muitos benefícios de Deus que podemos enumerar e considerar, um por um, na hora em que devemos lutar contra os demônios soberbos.

Filoteu o Sinaíta,
Capítulos népticos 13

Nada é mais temível do que o pensamento da morte, nem mais maravilhoso do que a recordação de Deus. Um traz tristeza salvadora, o outro doa alegria. Diz o profeta: Lembrei-me do Senhor e me alegrei (Sl 76, 4); e o sábio: “Recorda-te de teu fim e não pecarás” (cf. Sir 7, 36). Mas é impossível que se alcance a posse do segundo se não se fez a experiência da dureza do primeiro.

Elias Presbítero,
Capítulos gnósticos 12

E o Teólogo diz: “É necessário recordar-se de Deus mais do que de respirar” (Gregório de Nazianzo, Discursos 27,4). E ainda: “Pensa em Deus mais do que respiras” (citação não identificada).

Calixto e Inácio Xantópulos,
Método 29

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