3. A maledicência e a murmuração

Se a caridade não faz mal ao próximo (Rm 13,10a), quem inveja o irmão e se entristece com a boa fama de que goza e com escárnio contamina a sua reputação ou lhe prepara ciladas com malícia, por acaso não se torna estranho à caridade e merecedor do eterno juízo?

Se plenitude da lei é a caridade (Rm 13,10b), quem guarda rancor contra o irmão e contra ele trama ciladas, alegrando-se com sua queda, por acaso não é transgressor da lei e digno do castigo eterno?

EMáximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,55-56

Se quem fala mal do irmão e o julga, fala mal da Lei e julga a lei (Tg 4,11), e a lei de Cristo é a caridade, por acaso o maledicente não despreza a caridade de Cristo e não se torna merecedor do castigo eterno?

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,57

Não dar ouvidos à língua do maledicente, nem ao ouvido do maledicente, dizendo ou escutando com prazer [insinuações] contra teu próximo, a fim de que não ofendas à divina caridade e sejas julgado estranho à vida eterna.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1, 58

Não acolhas más palavras contra teu pai e não encorajes quem o ofende, para que o Senhor não se irrite com tuas obras e não te suprima da terra dos viventes (cf. Dt 6,15).

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,59

Cala a boca de quem fala mal a teus ouvidos, para não cometer, conjuntamente, um duplo pecado, habituando-te a uma funesta paixão e não impedindo ao outro de proferir calúnias contra teu próximo.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 1,60

A respeito daquilo que ontem louvavas como bom e elogiavas como virtuoso não fales mal hoje, como se fosse mal e malvado, porque em ti a caridade se transformou em ódio, tomando como justificação do ódio malvado que existe em ti o desprezo pelo irmão, mas prossegue nos mesmos elogios, mesmo se agora estás dominado pela tristeza, e atingirás facilmente a caridade que salva.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,27

Ao conversares com os outros irmãos, não contamines o elogio que habitualmente diriges ao irmão, ocultamente misturando o queixume por causa da tristeza que ainda guardas em relação a ele, mas, conversando, louva-o com pureza e reza sinceramente por ele como se fosse por ti logo serás liberto do ódio funesto.

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 4,28

A alma maledicente tem três punhais na língua: prejudica-se a si mesmo, quem escuta e, às vezes, quem é objeto da maledicência.

Talássio Líbico,
Sobre a caridade 3,48

O ódio ao próximo é a morte a alma: o possui e põe-no em prática a alma do maledicente.

Talássio Líbico,
Sobre a caridade 3,50

Nada faz progredir ocultamente como o criticar-se e o cortar as vontades próprias,  nada conduz ocultamente à ruína como a presunção e a auto-complacência; nada faz distanciar-se de Deus e provoca o castigo do homem como a murmuração. Nada induz tão facilmente ao pecado quanto a intriga e as fofocas.

Pedro Damasceno,
Livro I, vol. III, p. 74

Todo o bem que o homem faz o maligno quer manchar e contaminar misturando-lhe as próprias sementes, como as da vanglória, da presunção, ou também da murmuração ou de qualquer coisa semelhante, para que o bem que se faz não seja somente feito por Deus ou não provenha da boa vontade.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 17

Quando, por negligência, permitimos aos demônios insinuarem em nossos ouvidos suspeitas contra os irmãos, certamente pelo fato de não termos vigiado os movimentos de nossos olhos, somos arrastados, às vezes, a condenar também aqueles que são perfeitos na virtude. De fato, se um que possui um olhar alegre e o rosto sorridente e é cordial com todos ao conversar te pareça inclinado aos prazeres e às paixões, qualquer um que tenha o olhar triste e severo, segundo teu parecer está tomado pela cólera e cheio de orgulho. Mas não se deve dar importância aos aspectos particulares dos homens; é perigoso a todos julgar essas coisas. Na verdade, entre os homens há muitas diferenças de natureza, de hábitos e de disposições físicas, e que podem observar e julgar de verdade somente aqueles que adquiriram o olhar espiritual da alma através de uma grande compunção e que carregam em si mesmos a infinita luz da vida divina. A esses foi dado conhecer os mistérios do reino de Deus (cf. Mt 13,11).

Nicetas Stéthatos,
Capítulos práticos 63

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