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BEM-AVENTURADO PAPA JOÃO PAULO I

Em 13 de outubro de 2021, o Papa Francisco aprovou um milagre atribuído ao servo de Deus Papa João Paulo I. Uma vida breve que nos ofereceu três papas num ano e, mais ainda, tornou possível que tivéssemos – agora – três Papas não italianos.

Albino Luciani nasceu em 1912 em Canale d’Agordo, Belluno, e morreu em 28 de setembro de 1978, no Vaticano. Era filho de um operário socialista que tinha trabalhado como emigrante na Suíça. Quando decidiu ir para o seminário, seu pai o admoestou: “Espero que quando te tornares padre ficarás do lado dos pobres, porque Cristo estava ao lado deles”.

João Paulo I, que será beatificado no próximo ano, foi papa apenas 33 dias: não deixou documentos sobre seu pontificado, a não ser nomeações para a Secretaria de Estado, algumas cartas, homilias, mas contribuiu para modificar a imagem do papa, indicando um modo novo – simples, pessoal, evangélico – de ser Papa. Nenhum documento ficou para a história do Papado, mas modificou a imagem papal, deixando um exemplo coerente, permitindo, pelo exemplo, intuir de certo modo como poderia ser seu Pontificado se tivesse tido tempo. Esse novo modo de ser Papa, o exemplo, influiu em seu sucessor, Papa Wojtyla.

Transformou a cerimônia da Coroação papal numa “Celebração de início do ministério de Pastor universal”, como continuarão os sucessores. Quis renunciar à Sédia Gestatória, depois aceitando, devido a pressões curiais.

O Papa Paulo VI e o Cardeal Albino Luciani, o futuro Papa João Paulo I, são fotografados em Veneza em 1972. O Papa Francisco beatificará o Papa Paulo em 19 de outubro durante a Missa de encerramento do Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a família. O milagre necessário para a beatificação do Papa Paulo envolveu o nascimento de um bebê saudável para uma mãe na Califórnia, depois que os médicos disseram que ambas as vidas estavam em risco. (CNS photo / Giancarlo Giuliani, Catholic Press Photo) (12 de maio de 2014) Ver BLESSED-PAULVI 12 de maio de 2014.
Papa Paulo VI é saudado por Albino Luciani em Veneza.

Como Cardeal, sugeriu a Paulo VI que assumisse uma posição menos rígida sobre a pílula e, como Papa, convidou mais vezes à confiança em Deus “que é pai, mas também mãe”, a não perder nunca a esperança, uma virtude obrigatória para nós crentes, que nos faz caminhar num clima de confiança e de abandono.

O pobre Papa Luciani não dormiu na noite depois da eleição, atormentado por escrúpulos por ter aceito ser Papa e apareceu tocado por todos os 33 dias de sua breve missão. Disse aos Cardeais, brincando sem brincar: “Que Deus perdoe o que fizeram”. Sentiu-se fora de lugar no discurso após a eleição: “Mas é um pouco fora de lugar dar-lhes a bênção apostólica… Todos sois sucessores dos Apóstolos… De qualquer modo está escrito aqui: ‘Em nome de Cristo dou como efusão de sentimento, a vós, as primícias da minha bênção apostólica’… Linguagem um pouco áulica… Paciência”.

Não tinha nenhuma dificuldade de identificar-se com os humildes e com os necessitados. Uma vez falou que “passou fome” em criança, quando conduzia as vacas à pastagem, com o pai emigrado para trabalhar na Suíça.

Como bispo de Vittorio Veneto e como patriarca de Veneza estava acostumado a se encontrar com as pessoas e agora – como Papa – ele temia que não poderia basear sua ação nessa relação: “Num certo sentido estou triste por não poder retornar à vida do apostolado que me dava tanto prazer. Sempre teve dioceses pequenas, meu trabalho era junto dos jovens, os operários, os doentes. Não poderei mais fazer esse trabalho”. Assim falou, em 30 de agosto de 1978, aos cardeais que o elegeram.

Foi definido “o Papa do sorriso”, mas quem o conheceu como cardeal notou que não sorria tão facilmente, como o fazia a cada dia no mês como Papa. Talvez esse sorriso significava seu desejo de mostrar sua solicitude e sua alma de bom pastor em relação a cada pessoa. Como Papa, queria manifestar que deixava suas “dioceses pequenas” e ingressava numa diocese imensa, tendo por auditório o mundo. Receava que seu temperamento voltado para o contato pessoal não o ajudasse. Era um sorriso que manifestava a todos seu desejo de comunicar. Talvez a dor escondida por trás desse sorriso apressou-lhe a morte e hoje o acompanha na memória dos humildes, dos pobres, felizes com o anúncio da beatificação.

Papa João Paulo I abençoa o Cardeal Wojtyla, que será seu sucessor menos de um mês depois.

João Paulo I teve a vida marcada pela simplicidade dos santos. Ordenado bispo por São João XXIII, em 1958, sucedeu a São Paulo VI em Roma e foi sucedido por São João Paulo II. Sua humildade trouxe-nos o encanto dos Santos e ofereceu à Igreja a esperança de uma nova época: o infarto levou do mundo esse homem rico em santidade, rico na pobreza e deixou-nos a imagem de um homem que encheu o mundo de confiança no Pontificado romano a que ofereceu um novo modo de exercício do ministério petrino. Último Papa italiano, deixou-nos a surpresa de um Papa polonês, um alemão e um argentino. Deus seja louvado!


Pe. José Artulino Besen

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