1.8. O orgulho

Nossa oitava luta é contra o espírito do orgulho, o mais terrível e cruel de todos os espíritos que o precedem. Assalta, sobretudo os perfeitos e busca abater aqueles que quase atingiram o cume das virtudes. É como uma doença infecciosa e fatal que destrói não só um membro, mas todo o corpo; do mesmo modo o orgulho destrói a alma inteira, e não somente uma parte. Cada uma das outras paixões, mesmo se atormenta a alma, combate apenas a virtude oposta procurando vencê-la; por esse motivo escurece em parte a alma. Mas a paixão do orgulho obscurece a alma inteira e a arrasta numa queda extrema.

Para melhor entender o que estamos dizendo, pensemos nisso: a gula procura destruir a temperança; a fornicação a continência; o amor pelo dinheiro a pobreza; a ira a mansidão; e as outras formas de malícia as virtudes opostas. O mal do orgulho, quando se apodera da alma infeliz, como o mais cruel tirano que conquista uma cidade grande e elevada, a destrói inteiramente e a abate desde os fundamentos. Disso é testemunha o anjo que caiu do céu por causa do orgulho. Tinha sido criado por Deus e adornado com todas as virtudes e sabedoria, mas não quis atribuí-las à graça do Senhor, mas à própria natureza. Por isso pensou-se igual a Deus. É essa pretensão que o profeta reprova quando declara: “Disseste no coração: ‘Sentar-me-ei numa montanha elevada, colocarei meu trono nas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo’ (cf. Is 14,12-14). Mas, tu és um homem e não Deus” (cf. Ez 28,2)”. Um outro profeta diz: Por que te glorias na malícia, ó poderoso? (Sl 51,1) e a continuação do salmo.  Portanto, sabendo disso, ficamos cheios de temor e com toda vigilância guardamos o nosso coração contra espírito fatal do orgulho, repetindo sempre, quando pomos qualquer virtude em prática, as palavras do Apóstolo: Não eu, mas a graça de Deus que está comigo (1Cor 15,10), e também a palavra do Senhor: Sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5), do mesmo modo como o profeta: Se o Senhor não constrói a cidade, é vão o trabalho dos construtores (Sl 126,1), e: Não de quem quer, nem de quem corre mas de Deus que faz misericórdia (Rm 9,16). Porque, mesmo se alguém fosse o mais possível ardente em seu zelo, aquele que está ligado à carne e ao sangue não poderá alcançar a perfeição a não ser pela misericórdia e graça de Cristo. Também Tiago diz:  Todo dom bom vem de Deus (Tg 1,17). E o apóstolo Paulo: O que tens que não o recebeste? E se o recebeste, porque te glorias como se não tivesses recebido? (1Cor 4,7), exaltando-te como se essas coisas fossem tuas? Que a salvação nos venha da graça e da misericórdia de Deus, dá testemunho verdadeiro aquele ladrão que não recebeu o reino dos céus como recompensa das virtudes, mas por graça e misericórdia de Deus (cf. Lc 23,43).

Cassiano o Romano,
Ao bispo Castor, vol. I, pp. 79-80

Nunca ser discípulo de quem se louva a si mesmo para não aprender o orgulho em vez da humildade.

Marcos o Asceta,
A Lei espiritual 10

A paixão do orgulho consta de duas formas de ignorância; duas formas de ignorância que convergem numa, dando origem a um sentimento de confusão. De fato, é orgulhoso somente quem ignora o socorro de Deus e a fraqueza humana. O orgulho é privação do conhecimento divino e humano, porque a negação dos dois extremos que afirmam a verdade conduz a uma afirmação falsa.

Máximo o Confessor,
Sobre a teologia 5,64

O orgulho induz a afastar-se do socorro divino, a confiar em si e a rebelar-se contra os homens.

Talássio líbico,
Sobre a caridade 4,34

A oração com lágrimas e não desprezar ninguém eliminam o orgulho; em seguida, aquilo que acontece contra a nossa vontade.

Talássio líbico,
Sobre a caridade 4,36

Retornar ao índice →

  1. Deixe um comentário

Deixe um comentário