5. O desespero

Os pecados de outro tempo, recordados nos mínimos detalhes, causam prejuízo a quem tem boas esperanças. Relembrados com tristeza, afastam da esperança; se vêm representados sem tristeza, reproduzem a antiga sujeira.

Marcos o Asceta,
Sobre aqueles que se crêem justificados 151

Desesperar-se é mais terrível do que pecar. Judas, o traidor, era covarde e sem experiência na luta, e por isso o inimigo atirou-se nele que se desesperava e o laçou (cf. Mt 27,5). Pedro, ao contrário, a rocha sólida, precipitado numa queda medonha, não se deixou levar como quem não sabe lutar, nem foi abatido, não cedeu ao desespero mas, com o coração aflito e humilhado (cf. Sl 50,19), levantou-se e derramou lágrimas amarguíssimas (cf. Mt 26,75). Ao ver isso, o nosso inimigo, como se tivesse o rosto queimado por chamas violentíssimas, num salto fugiu para longe, berrando terrivelmente.

João Carpácio,
Aos monges da Índia 85

Quando a alma começa a progredir no amor de Deus, então também o demônio da blasfêmia começa a tentá-la e lhe sugere pensamentos tais que nenhum homem pode imaginar. Faz isso invejando o amigo de Deus para que, tomado pelo desespero por ter alimentado tais pensamentos, não ouse mais elevar-se a Deus com a oração habitual. Para seu proveito, porém, nada consegue aqui aquele maldito, mas, pelo contrário, nos torna ainda mais fortes. De fato, combatidos e combatendo, ficamos mais provados e mais sinceros no amor de Deus. Sua espada se afundará em seu coração e seus arcos se quebrarão (Sl 36,15).

Máximo o Confessor,
Sobre a caridade 2,14

Corramos com pressa para Cristo que nos chama, abrindo-lhe nosso coração e não nos desesperemos de nossa salvação por causa da má vontade. Esse é o truque do maligno: levar-nos ao desespero. Mas, devemos meditar que, se Cristo veio como médico e curador dos cegos, paralíticos e surdos e para ressuscitar os mortos já decompostos, quanto mais não curará a cegueira da mente e a paralisia da alma e a sujeira de um coração negligente? Não é um outro, mas é ele que criou o corpo, é ele que também criou a alma. E se teve tanta bondade e compaixão dos corpos decompostos e moribundos, quanto mais não será cheio de amor e disposto a curar a alma imortal tomada pela doença da maldade e da ignorância, mas que depois dele se aproxima e o invoca? São suas as palavras: “O meu Pai celeste não fará justiça àqueles que para ele gritam dia e noite?” (cf. Lc 18,8). E: Pedi e vos será dado, procurai e achareis, batei e se vos abrirá (Mt 7,7). E ainda: “Mesmo se não lhe dará porque é amigo, certamente por causa da importunação se levantará e lhe dará quanto é preciso” (cf. Lc 11,8) e desse modo convida a dirigir um pedido importuno e perseverante, porque ele veio para os pecadores, para reconduzi-los a si (cf. Mt 9,13). Basta que nós, o quanto pudermos, fiquemos longe das predisposições maldosas e abramos espaço ao Senhor e ele não nos desprezará, mas estará pronto para oferecer-nos seu socorro.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 72

Muitas vezes acontece que Satanás te assalta e conversa contigo no coração e te diz: “Entende quantas coisas más fizeste; tua alma está cheia de iniqüidade, carregas o peso de numerosos e terríveis pecados”. Não esqueças que ele age desse modo para levar-te ao desespero sob a aparência de humildade; desde que, através da desobediência, o mal fez seu ingresso, ele teve a possibilidade de entrar e de certo modo conversar cada dia com a alma, como um homem com outro homem, e sugerir-lhe ações inconvenientes. Tu, porém, responde-lhe: “Mas eu tenho a garantia escrita por Deus que diz: ‘Não quero a morte do pecador, para que se converta mediante a conversão e viva’ (cf. Ez 22,11). Por que quereria descer se não para salvar os pecadores, para iluminar aqueles que estão nas trevas e dar vida aos mortos?”

Macário o Egípcio,
Paráfrases 117

O desespero não pode ter espaço no homem, mesmo se o maligno o insinue de modos variados não só naqueles que vivem na indiferença, mas também naqueles que combatem. Desde que o tempo da vida é tempo de conversão, o próprio fato de que, quem pecou ainda vive, nos assegura que Deus acolhe a quem quer retornar a ele. À vida nesta terra está sempre unida a liberdade, e à liberdade compete escolher ou afugentar o caminho da vida ou o caminho da morte acima indicados, sendo possível buscar aquele que se deseja entre os dois. Portanto, onde há espaço para o desespero, do momento que todos podem sempre, quando quiserem, adquirir a vida eterna?

Gregório Pálamas,
À monja Xênia, vol. IV, p. 96a

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