MONSENHOR HARRY BAUER

Monsenhor Harry Bauer

Filho do brusquense Leopoldo Bauer e de Evelina Guerreiro, Harry Bauer nasceu em Luiz Alves em 28 de março de 1904. À época, Luiz Alves pertencia ao município de Itajaí. Era neto de João Bauer, forte comerciante de Brusque que, em 1890, fez a primeira experiência de indústria de fiação e tecelagem em Brusque, além de ser dono de muitos engenhos e de 2 barcos no porto de Itajaí.

Harry ingressou no Seminário Conceição de São Leopoldo, pois Florianópolis ainda não dispunha de seminário. Não gozava de boa saúde. Em 1º de julho de 1924 escreveu a Dom Joaquim: muito doente, esteve internado em Porto Alegre com esgotamento nervoso, contínuas dores da cabeça, dilatação da aorta, angina pectoris. Era característico o estado nervoso sempre forte, profunda depressão, não diagnosticável, à época. Em 16 de julho de 1924 adoeceu gravemente e Dom Joaquim aconselha-o a estudar em Taubaté, onde havia menos frio.

Por ser de família de nome e de posses, seria candidato natural a ir estudar Teologia em Roma, o que não era aconselhável, pois a mudança não lhe faria bem. Mas, em novembro, para agradá-lo, Dom Joaquim indica-o para estudar em Roma no Pontifício Colégio Pio latino. Em 8 de novembro de 1924, após consultar sua mãe, Harry responde que seria difícil ir a Roma, por causa do clima e longa permanência. No ano seguinte, 1925, foi convidado a acompanhar Dom Joaquim a Roma, na visita ad limina, e sem compromisso: se gostasse, ficasse no Pio Latino, caso contrário, retornasse ao Brasil. O convite não foi aceito.

Em 1926, Harry segue para o Seminário de Mariana, em Minas Gerais, mas, já em maio escreve que a saúde não melhorou. Dom Joaquim, a seu pedido, pede que o Reitor o dispense dos exames, que exigiriam muito dele. Sempre com saúde frágil, em 2 de setembro de 1926 pensou em ir ao Seminário de Araçuaí, mas Dom Helvécio, arcebispo de Mariana, disse-lhe que o clima lá não era bom e com muita febre palustre e não recomendava enfrentar, doente, tão longa viagem. Harry solicita a Dom Joaquim poder-se internar algumas semanas numa casa de saúde no Rio e depois um tempo com a família, para descanso. Ato contínuo, em 9 de setembro o reitor de Mariana, o lazarista Pe. Leão Bros, reitor, escreveu a Dom Joaquim, a pedido de Dom Helvécio, para que o chamasse para junto dos familiares. Em 21 de setembro Dom Joaquim autoriza-o tanto ir ao Rio como depois seguir para casa.

Em 1927 residiu, com sua mãe e alguns irmãos, em Trombudo, perto do Rio do Sul, pra onde a família tinha se transferido. O clima lhe faz bem, e ajudava na matriz de Rio do Sul e, aos domingos, na catequese.

Para prosseguir os estudos, em 1928 tentou se matricular em Curitiba, mas depois foi para Botucatu, SP, recomendado pelo Pe. Godofredo Mafra, CM, que o conhecera na capital paranaense, com edificação dos padres e estudantes. Além de inteligente, o seminarista Harry tinha dotes musicais, tornando-se bom pianista.

Em 10 de agosto de 1928, Dom Carlos Duarte Costa, bispo de Botucatu, – em 1945 fundador da Igreja Católica Apostólica Brasileira – , pediu a Dom Joaquim que autorizasse a ordenação do Harry e escreveu: “Preocupado com a ordenação, sem saber se consegue ordenar-se, ele só pode ser prejudicado em seu estado de saúde, pois a única preocupação dele é a ordenação”. Afirmou que tem vocação firme, boa índole, piedoso, boa formação. A saúde não era boa: continuava sofrendo dos nervos, dores de cabeça contínuas e as noites convertidas em verdadeiro martírio. A ordenação lhe faria bem.

Em 31 de agosto foi a mãe Evelina que pediu a Dom Joaquim a graça da ordenação. Sempre aparece, nas cartas, a “família”, o nome da família, a alegria da família Bauer.

Para alegria de todos, especialmente de Harry, em 8 de dezembro de 1928 Dom Joaquim o ordenou presbítero em Joinville. Em 19 de dezembro de 1928, por determinação canônica, Padre Harry constituiu como patrimônio um terreno que possuía em Itajaí e que, por morte, passaria à arquidiocese. Concluiu, como padre, o 4º ano de teologia em Botucatu.

Cura da Catedral e Vigário Geral

Com a criação da diocese de Joinville em 17 de janeiro de 1927, Pe. Harry optou por incardinar-se em Joinville, sendo Administrador apostólico Dom Joaquim. O primeiro bispo diocesano, Dom Pio de Freitas, CM, tomou posse em 9 de junho de 1929 e logo depois Pe. Harry foi nomeado Secretário do Bispado.

Dom Joaquim, porém, gostaria de tê-lo como auxiliar em Florianópolis e, em 12 de setembro de 1936 “consentiu” na permanência do Pe. Harry Bauer na Arquidiocese. Não só consentia, como também pedia que viesse para Florianópolis, onde sua presença seria mais necessária: “Espero que viveremos e continuaremos na mesma harmonia de vistas. Pai e filho. Em amizade sincera e respeitosa, começada em motivos de família, mas cimentada na Fé… Nessas condições, conte com a Arquidiocese como sua”.

Em 21 de março de 1937 Pe. Harry escreve a Dom Pio solicitando a concordância a que Dom Joaquim o nomeasse Cônego Honorário da Catedral de Florianópolis, o que foi concedido em 24 de março de 37.

Em 11 de maio, acompanhado da mãe, Pe. Harry se internou no Hospital de Joinvile. No dia 19 de junho Irmã Horácia, superiora do Hospital, comunicou que continuava internado em sério tratamento médico, com melhoras muito lentas e, em 26 de junho foi a vez de Côn. Harry telegrafar a Dom Joaquim, comunicando continuar internado, sem poder celebrar e sofrendo muito.

Côn. Harry vem para a arquidiocese de Florianópolis, residindo na casa paroquial da Catedral. Em 16 de agosto de 1937 foi nomeado Diretor arquidiocesano das Congregações marianas, seção feminina e, em 10 de janeiro de 1938, Assistente Eclesiástico do Círculo Operário de Florianópolis.

Para clarificar a situação canônica, em 22 de junho de 1939 Dom Pio concedeu-lhe a excardinação de Joinville para incardinar-se em Florianópolis, o que acontece em 16 de agosto.

Tem início uma fase de promoções, de amizade e confiança entre ele e o Arcebispo. Em junho de 1939 recebeu o título de Monsenhor Camareiro Secreto pois, afinal, era um Bauer. Em 16 de junho de 1939 foi nomeado 2º Vigário Geral do Arcebispado, no impedimento do Vigário Geral Frei Evaristo Schürmann OFM, que enlouquecera e se retirara para o Convento no Rio de Janeiro. Dom Joaquim teve a delicadeza de não destituí-lo na doença, mas, em 26 de junho de 1939 teve morte trágica no Convento Santo Antônio.

Assim, de 29 de junho de 1939 a 16 de dezembro de 1946 Mons. Harry Bauer foi Vigário geral de Florianópolis e Cura da Catedral. Em 1940, esporadicamente atendia os doentes da Colônia Santa Teresa, o Leprosário.

Nos trabalhos paroquiais contou com a valiosa colaboração das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que orientavam e davam Catequese nas comunidades do Centro até Costeira do Pirajubaé e do Centro até Agronômica.

Foi ele quem descobriu a voz de soprano de um menino, Ney Brasil Pereira, e levou-o a um teste no piano Essenfelder que o Coral Santa Cecília ainda usa nos ensaios (adquirido por ele, que era pianista). Em 1942, encaminhou-o ao Seminário e, como padre, é importante músico sacro brasileiro e biblista, tendo participado da Comissão Nacional de Música Sacra durante todo o período da reforma litúrgica.

Dirigiu a construção da nova Casa paroquial, a atual, onde também funcionava a Cúria metropolitana. Por longos decênios os vigários residiram na Rua Vidal Ramos, em casa relativamente espaçosa e com pequeno salão para reuniões. Fez-se venda desta casa em 1941, vindo mais tarde a ser construído no mesmo local o edifício em que se instalou a Móveis Linear. Com os recursos da venda da casa paroquial foi construída a dependência aos fundos da Catedral, em estilo moderno, onde passou a residir o Cura. Antes havia ali pequena casa recuada por sobre um barranco, resto do local do antigo cemitério. Houve críticas de que fora feito mau negócio ao se desfazer da antiga propriedade.
Orador sacro de largos recursos, voz cativante, envolvente pregador, Mons. Bauer adquiriu fama na organização do Congresso Eucarístico Estadual de 1939, comemorativo do Jubileu de Para episcopal de Dom Joaquim. Em 24 de fevereiro de 1940 foi nomeado Diretor Espiritual dos Irmãos Maristas do Abrigo de Menores.

Em agosto de 1941, acompanhado de sua mãe, esteve mais uma vez internado em Joinville. Em 13 de novembro de 1941 a Secretaria de Estado, através do Cardeal Luiz Maglione o nomeou Monsenhor Prelado Doméstico. Em maio de 1943 foi internado no Hospital de Tijucas. Numa carta, Dom Joaquim lhe escreve “Ao nosso caro e particular amigo”. A admiração tinha origem tanto na capacidade do padre como na estima pela família Bauer.

A doença perseguia seu ministério: em fevereiro de 1946 passou por internação hospitalar em Rio do Sul e, em março, em São Paulo. Devido ao adiantado grau de diabete, não podia fazer cirurgia. Em abril, estava no Hospital de Caridade de Joinville e em agosto, em Rio do Sul. Em 1946, foram seis meses de ausência.

Nesse tempo de ausências, Cônego Frederico Hobold assumiu de fato a Catedral. Surgem conflitos. Em 5 de novembro de 1946, de Rio do Sul Mons. Harry se queixa a Dom Joaquim, em longa e dolorida carta, pois, à véspera, fora recebido com frieza tanto por Dom Joaquim como por Côn. Frederico e as Irmãzinhas da Imaculada Conceição. As relações dele com Hobold e Irmãzinhas estava deteriorada. 

Uma amizade que se desfez

A situação não era tão simples pois, em 24 de abril, Mons. Bauer escrevera, para mágoa do Arcebispo: “Espero estar em Florianópolis, em breve, para mudança das minhas coisas, despedidas”. Na verdade, deixara a paróquia carregando oito malas. Dom Joaquim sentiu a “mudança”, e o expressa numa carta em 24 de abril. Os trabalhos não poderiam parar a espera de Monsenhor. Tinha voltado à Catedral e sobrara… Na verdade, ele mesmo tinha feito a mudança para Rio do Sul e depois se arrependera.

Mons. Bauer lamenta que Dom Joaquim iria separar o cargo de Vigário Geral do de Cura da Catedral e, estranhamente, pede um favor: não nomear Côn. Frederico para a Catedral e sugere o nome de Pe. Augusto Zucco. O arcebispo responde em 23 de novembro explicando que a separação do cargo de Vigário Geral e de Cura fora idéia dele e que sempre lhe quis bem e aliviá-lo em sua doença.

Tem início uma história de rompimento. Devido a ser tirado da paróquia da Catedral, onde era amovível, Monsenhor ameaça ir à Nunciatura exigir seus direitos: “V. Excia. não me compreende mais”. Levado pelo ressentimento e pela doença, escreveu em 29 de novembro de 1946 insistindo em justiça, ameaçando o Arcebispo sobre os segredos que guardava de padres e leigos que dele falavam mal, que lhe pediam para queixar-se à Nunciatura, e ele sempre defendendo Dom Joaquim. Em 12 de dezembro de 1946 Mons. Harry pede a Dom Joaquim autorização para ausentar-se da Arquidiocese para ir ao Rio falar com o Núncio. Dom Joaquim responde em 16 de dezembro tratando-o como “ex-vigário geral”. Terminava uma grande amizade.

O cargo de Vigário Geral era muito valorizado pela família Bauer, e Monsenhor sentiu o golpe, na verdade autoinfligido. Em 28 de dezembro tornou a escrever, lamentando: sua mamãe, seus irmãos, a família Bauer estavam consternados com sua demissão. Em nome deles, pede reconsideração da destituição, ao menos por enquanto. Fala que, melhorando, poderá procurar uma ordem religiosa ou outra diocese.

Em 17 de março de 1947 expõe a Dom Joaquim sua situação financeira, doente, sem ganho. Pede auxílio. Diz que sua doença provém dos males que lhe infligiram. Com toda nobreza cristã, Dom Joaquim enviou-lhe 6.000,00, perdoa-lhe a dívida que possuía e oferece 700,00 por mês. Mas, pede que essa quantia seja diminuída, pois a arquidiocese tinha suas dificuldades. E faz uma pergunta: essas longas viagens que faz, como para Araxá, não lhe consomem as forças? Por que não as gasta trabalhando, como num Hospital, onde não faltarão médicos? Em 18 de abril escreve Dona Evelina, mãe de Monsenhor, se queixando do duro tratamento dado a seu filho, dos trabalhos que acabaram com sua saúde. A carta é respondida em 5 de maio, ponto por ponto.

Em maio de 1947, está em Porto Belo, para repouso e tratamento de saúde e, em 22 julho pede para retornar à Catedral, sugerindo que Côn. Frederico vá morar no Palácio, tirando o Vigário Geral da Catedral. Em 22 de julho tem como resposta que é preciso merecer a confiança, depois de tudo o que houve. Dom Joaquim aconselha o Hospital, como capelão. Em 6 de agosto, Mons. Bauer escreve dizendo aceitar o tremendo sacrifício e humilhação de trabalhar na Catedral com Côn. Frederico, se assim for ordenado, e pede para levar sua mãe consigo. Profundamente irritado, Dom Joaquim responde negativamente em 11 de agosto, de forma clara: “Bem: sendo assim, dispenso-o de tudo. Já não o quero, nem ordeno. V. Rev.ma não voltará à Catedral. Repito: não o quero, nem ordeno. Ou: não o quero, e muito menos o ordeno”. Mas, caridosamente, sugere Hospital de Caridade, Abrigo de Menores, Colônia Santa Teresa e Tijucas, o que seria muito pouco para um Monsenhor.

Em 19 de março de 1948 escreve comunicando o câncer no estômago de sua mãe e sua doença pessoal. Pede novamente auxílio financeiro. No entretempo, consegue receber da Prefeitura de Rio do Sul um auxílio mensal a título de atendimento hospitalar, pois seu cunhado era Prefeito municipal.

Como já ameaçara, escreveu à Nunciatura pedindo seus direitos de Cura da Catedral. Em 14 de abril de 1948, o Núncio Dom Carlos Chiarlo escreveu a Dom Joaquim sobre isso e recebe como resposta o quanto já pagou a Mons. Harry, especificando as quantias, efetivamente generosas.

Finalmente, em maio de 1948 o Governador José Boabaid doa-lhe a alta quantia de 10.000,00. Em 29 de março de 1950, foi nomeado pelo Secretário de Interior e Justiça, Educação e Saúde, Diretor das Escolas Reunidas Professora Maria Regina de Oliveira, de Mosquitinho, distrito do município de Rio do Sul, com gratificação mensal como Capelão do Hospital e Diretor.

Mons. Bauer torna a se queixar ao Núncio que, em 6 de março de 1950, escreveu a Dom Joaquim para que entrasse em contato com o bispo de Joinville para ver se estaria disposto a incardiná-lo. Em 5 de julho de 1950, a Cúria escreve a Dom Pio, solicitando que incardine Mons. Harry em Joinville, onde já residia há cinco anos. Como teimosia. em 14 de julho Mons. Harry pediu a Dom Joaquim uma licença de mais cinco anos, por motivos de saúde. Diz que se incardinou em Florianópolis apenas por insistência de Dom Joaquim. Dom Pio responde em 17 de julho que até o incardinaria com satisfação.  Dom Joaquim aproveita a expressão “incardinaria com satisfação” e o excardina de Florianópolis em 2 de maio de 1951. Dom Pio percebe o golpe e, em 21 de maio, diz que o incardinaria, mas deve ouvir primeiro o interessado. Dom Joaquim envia a Dom Pio um modelo de decreto. Não funcionou. Em 28 de agosto de 1955 Mons. Bauer escreveu de Araraquara a Dom Joaquim pedindo o documento de sua incardinação em Florianópolis, com vistas à incardinação em Joinville, agora por Dom Inácio Krause, mas, era provocação, pois em 6 de julho de 1954 Monsenhor tinha sido incardinado em Joinville…

Conflitos em tempo de política

Em 7 de agosto de 1951 sai publicada no jornal O ESTADO Carta Aberta de Rubens de Arruda Ramos, denunciando a exoneração de Monsenhor do cargo de Diretor das Escolas Reunidas de Pastagem por Irineu Bornhausen e demitindo-o do cargo de Provedor do Hospital pelo prefeito Waldemar Bornhausen. Era a perseguição aos pessedistas-PSD pela UDN, vencedora nas eleições. A Carta cita as obras de Monsenhor: equiparação do Colégio das Irmãs salesianas à Escola Normal e o mesmo com o Ginásio Dom Bosco. As obras no Hospital ampliado, a construção de novo prédio escolar de Mosquitinho, pois o antigo fora derrubado por um ciclone. Tudo fora possível pelas vultosas quantias que Monsenhor conseguira no Governo Federal.

Em 6 de novembro de 1953, Monsenhor escreve um bilhetinho pedindo a Dom Joaquim a preciosa bênção para seu Jubileu de Prata Sacerdotal. A resposta vem assinada por um “auxiliar da Cúria”, reclamando da vulgaridade do bilhetinho – pois um Monsenhor deve zelar pelo dignidade – e dizendo que a bênção já foi dada na Ordenação. Desde 1947, Dom Joaquim não escrevia mais cartas a Monsenhor, isto é, não assinou nenhuma, para demonstrar sua tristeza.

Mons. Harry Bauer foi picado pela mosca azul: residia em Rio do Sul, dirigia escola, se interessara por obras no município e, por isso, um grupo animou-o a participar das eleições. Em 29 de março de 1954 o Cardeal do Rio, Dom Jaime de Barros Câmara, escreveu a Dom Joaquim pedindo orientação: Monsenhor estaria para ser lançado à Câmara Federal pelo PSD, por Rio do Sul. O Cardeal julga que Monsenhor, homem nervoso, sensibilíssimo, um tanto ingênuo e vaidoso, seria envolvido por espertalhões. Dispõe-se a arrumar colocação no Rio para ele, se fosse o caso, e diz que ainda não falou com “nosso Dr. Nereu” Ramos, Senador da República. Ciente, em 5 de abril de 1954 Dom Joaquim escreveu a Dom Pio alertando-o e esclarecendo que é contra a candidatura e não dará licença (Cânon 139 # 4). No mesmo dia, escreveu a Nereu Ramos pedindo, em nome dele e do Cardeal “amigo e justamente admirador de V. Excelência”, “serenar os pruridos dos moradores ou o grupo de moradores do Rio do Sul”. Houve resposta de Dr. Nereu em 10 de abril de 1954, dizendo que o irmão de Monsenhor, Augusto Bauer,  o procurara e que a candidatura era um desejo da Família Bauer, e que Dom Pio tinha concordado, ou pelo PSD ou pelo PDC. Nereu Ramos, contudo, pediu que aguardasse a Convenção de 24 de abril.

Em 21 de junho, a Cúria escreveu a Monsenhor dizendo que escutou falar da candidatura e que a desaprovam totalmente Dom Joaquim, Dom Pio e Dom Jaime. Escreveu também a Adolfo Antônio Bauer, em Rio do Sul, comunicando o desagrado e proibição. Em 30 de julho sai no O ESTADO a Declaração oportuna da Cúria, comunicando a proibição canônica e a proibição de uso de praças em frente à igreja ou de salões paroquiais para reuniões políticas.

Em 25 de agosto o “Auxiliar da Cúria” se dirige a Mons. Bauer dizendo que, além de tudo, o Cardeal não concederia Uso de Ordens a padres eleitos, no Rio. Em 30 de agosto Dom Joaquim escreveu ao líder brusquense Beno Schaeffer, primo de Monsenhor, dizendo isso e mais: não está incardinado em Florianópolis, razão pela qual nada pode fazer. Como se nada soubesse, Monsenhor escreveu a Dom Joaquim em 9 de novembro de 1954, comunicando ser candidato pelo Partido Democrata Cristão-PDC às eleições de 3 de outubro de 1955, e pedindo autorização para fazer propaganda na Arquidiocese. Resposta: não.

Em fins de 1954, cheia de ressentimentos, uma irmã de Mons. Bauer vai a Curitiba pedir que ele seja recebido naquela diocese. Dom Jerônimo Mazzarotto, Vigário Geral, pede informações em 10 de dezembro de 1954, tendo como resposta que praticamente Bauer não é conhecido, mas que nada o desabona.

Em 21 de setembro de 1955 o A GAZETA de Florianópolis publica texto “Monsenhor Bauer e o P.S.D.” num sutil jogo de palavras duvidando que Mons. Bauer estivesse apoiando, contra os órgãos partidários, as candidaturas dos petebistas Francisco Gallotti e Miranda Ramos, “comunistas”. Refere o comentário que Monsenhor teria negociado com Aderbal Ramos da Silva para fazer propaganda das candidaturas comunistas e “já teria iniciado o ‘servicinho’ em Angelina”.

A situação complica em Brusque: Mons. Paschoal Librelotto, major-capelão da FEB, se apresentava como candidato dos interesses da Igreja pelo PSD, e Mons. Bauer pelo PDC. Em 29 de setembro de 1955, carta assinada por tradicionais figuras brusquenses lamentava a posição facciosa do Arcebispo proibindo Mons. Bauer de fazer campanha pelo candidato do PDC Dr. Ingo Arlindo Renaux, enquanto que Mons. Librelotto, do PSD, se hospedava na casa paroquial de Brusque e chegava a rezar quatro Missas por dia no interior, em seguida convidando o povo para comício. Isso era usado na imprensa brusquense para dizer que o Arcebispo não apoiava Ingo Renaux.

Dom Joaquim, evidente, sentiu o golpe, pois prezava, e muito, a família Renaux. Responde de modo indireto, escrevndo em 29 de setembro de 1955 a Pe. Guilherme Kleine, ecônomo de Azambuja, explicando que Mons. Bauer não estava na casa paroquial porque não se apresentara, invadiu a área, e Mons. Librelotto visitou o vigário. Mas, apóia Ingo Renaux: “…sobre a pessoa do snr. DR. ARLINDO RENAUX… estou que, no que lhe toca, nada se possa opor à votação dos católicos e mesmo dos amantes do progresso e trabalho honesto que tanto aprimora e recomenda a sua ilustre Família”.  Em 4 de outubro de 1955, Dom Joaquim escreve a Dr. Guilherme Renaux, pai de Ingo, lamentando o acontecido. A mágoa da família Renaux foi grande, pois Ingo perdeu para Dr. Carlos Moritz por 174 votos. O vigário de Brusque fez campanha contra os Renaux e atacava o Pe. Kleine na campanha dizendo que “com a vitória do Dr. Carlos Moritz haveria de voar da Azambuja” (Carta de 7 de outubro de 1955).

Mons. Librelotto (1901-1967) não se elegeu, mas foi nomeado Secretário de Educação (1955-1956) e Vice-presidente Juiz do Tribunal de Contas do Estado de SC (1956-1960).

Os últimos anos longos anos

Em dezembro de 1956 Mons. Bauer estava em tratamento em Porto Belo, celebrando normalmente a Missa. A Cúria escreveu ao pároco Côn. Augusto Zucco para saber se ele tinha autorização pontifícia, como afirmava ter recebido da Nunciatura. Informado do caso, Mons. Bauer escreveu à Nunciatura, que encaminhou carta a Dom Joaquim, para conceder a autorização de celebrar “ratione provectae aetatis” e “et ratione adversae valetudinis”. Dom Joaquim respondeu irado, por voz de Mons. Vigário Geral, que um homem com 51 anos não é idoso e que a “doença de Mons. Bauer é toda de imaginação. Imaginação e fingimento. Está doente quando lhe convém” (Carta de 5 de março de 1957 a Dom Carmine Rocco). Mas, movido pela compaixão, em 28 de abril concede a Pe. Zucco, vigário de Tijucas e Porto Belo, a delegação de conceder as faculdades pedidas.

Residindo em Rio do Sul, Mons. Harry Bauer ajudava nas paróquias vizinhas e se dedicava à direção escolar. Não teve mais provisões eclesiásticas. Esteve sempre envolvido com tratamentos e doenças que, parece-nos, fossem a somatização da depressão, a doença da alma. Não era fácil manter a saúde com a lembranças de suas importantes funções de Vigário Geral e Cura da Catedral, da amizade fraterna e paterna com Dom Joaquim. Tudo se perdera e lhe restara título e a humilde escola onde trabalhava.

Monsenhor Harry Bauer faleceu no Hospital Miguel Couto, em Ibirama, onde residia, em 6 de fevereiro de 1974. A Missa de Corpo presente foi celebrada na Catedral de Rio do Sul e presidida por Dom Tito Buss, bispo diocesano. Está sepultado no cemitério de Rio do Sul.

Pe. José Artulino Besen

  1. #1 por Paulo Vendelino Kons em 15 de maio de 2012 - 12:06

    Caro PADRE JOSÉ BESEN – Paz e Bem,

    Com a satisfação de cumprimentá-lo e tecer contundente elogio pelo trabalho que realizas, informo que o pai do industrial Ingo Arlindo Renaux é o Dr. Guilherme Renaux (Willy Renaux) e não Otto Renaux (tio de Ingo) como consta no texto … Em 4 de outubro de 1955, Dom Joaquim escreve a Dr. Otto Renaux, pai de Ingo, lamentando o acontecido.

    Fraternalmente,

    Paulo Vendelino Kons
    47 9997 9581 – BRUSQUE/SC

    • #2 por José Artulino Besen em 15 de maio de 2012 - 14:38

      Prof. Paulo Vendelino:
      obrigado pela correção, que já está sendo providenciada.
      Grato também pelo incentivo.
      Pe. José

  1. MONSENHOR HARRY BAUER « Pe. José Artulino Besen

Deixe um comentário