PADRE AFONSO VIDAL REITZ – SENSIBILIDADE E RIGIDEZ

Pe. Afonso Vidal Reitz

Padre Afonso Vidal Reitz nasceu em Antônio Carlos, SC em 30 de outubro de 1906, filho de Nicolau Adão Reitz e Ana Maria Reinert. É mais conhecido como o irmão mais velho de outros dois grandes padres: Cônego Dr. João Reitz e Cônego Dr. Raulino Reitz. Três irmãos, de temperamentos muito diferentes, mas, unidos pelo amor à Igreja e à natureza. Afonso ingressou no Seminário Conceição de São Leopoldo na juventude e foi ordenado sacerdote em 04 de novembro de 1934, em São Pedro de Alcântara.

Foi o Seminário de Azambuja seu primeiro campo de apostolado, ali exercendo as funções de professor (1935-1939), diretor espiritual (1936) e prefeito de estudos (1938-1939).

Rigoroso consigo mesmo, o era com os outros, sendo muitas vezes de difícil convivência não por egoísmo mas pelo severo cumprimento dos deveres.

Em 12 de dezembro de 1939 foi provisionado pároco de São Vicente de Paulo, Luís Alves. (Mais tarde descobriu que o motivo de sua transferência tinha sido o fato de com um tiro matar o gato de estimação da Madre Superiora: “fui trocado por um gato morto”, brincava, azedo).

Era um padre diocesano assumindo uma paróquia de grande tradição salesiana. Sempre levou em alta consideração o trabalho salesiano e viu seus melhores jovens se encaminharem para os seminários dessa Congregação, serem ordenados padres, três deles eleitos bispos. E foram numerosas as vocações femininas.

Pe. Afonso era um homem rigoroso, de posições claras defendidas com intransigência. Zeloso no atendimento às comunidades, no confessionário e na pregação. Em Luís Alves encontrou muitas famílias que tinham emigrado de Antônio Carlos e que ofereceram valiosa contribuição à vida paroquial.

Necessitando a paróquia de nova igreja matriz, escolheu um projeto de estilo românico puro, igreja imensa para pequena cidade. Sempre se orgulhou da pureza de estilo dessa construção levada a cabo com sacrifício e zelo pelos pormenores.

Pe. Afonso tinha algumas limitações que muito comprometiam seu relacionamento com o povo: a opção política pela União Democrática Nacional-UDN, os nervos à flor da pele e, fraqueza humana, a propensão para a bebida, da qual se libertou nos últimos anos de vida.

Em dado momento, as queixas se avolumaram e o arcebispo Dom Joaquim lhe passou um telegrama de transferência: “Deixe Luís Alves. Proponho Penha”. No seu estilo, Pe. Afonso respondeu com outro telegrama: “Penha não me interessa. Não deixo Luís Alves”. Era o ano de 1965, após 26 anos dedicados à paróquia de Luís Alves. Seu telegrama não teve efeito, pois, dias depois, chegou Pe. Bertolino Schlickmann com provisão competente, Penha foi ocupada por outro padre e Pe. Afonso literalmente “sobrou”. Dirigiu-se a Florianópolis e viu-se isolado: Dom Joaquim não o recebia de jeito nenhum, pois tinha sido desobediente. Nessa situação de abandono entra em campo o irmão Pe. Raulino Reitz, que pede ao Arcebispo que permita Pe. Afonso residir em Azambuja na condição de “exilado”, o que acabou acontecendo.

Professor, confessor e artista em Azambuja

E assim, pobre, Pe. Afonso retornou ao Seminário de Azambuja, lecionando de 1965 a 1972. Suas matérias preferidas: português, desenho, geografia, alemão e italiano. Seu relacionamento com os alunos deixava a desejar, com ameaças de castigos físicos e ataques verbais. Era seu modo de ser. Um homem solitário, devotado ao silêncio e aos livros. Não prezava amizades, nem de ex-paroquianos nem de familiares. A solidão levava à agressividade e vice-versa.

As aulas de português eram ministradas através da leitura de Rui Barbosa (Oração aos Moços) e Afonso d’Escragnolle Taunay (Inocência) e elogios a Humberto de Campos. Fazia a gramática brotar do texto. Um clássico, suas leituras pessoais eram Padre Antônio Vieira, Frei Luís de Sousa, Padre Manoel Bernardes e os Santos Padres. Era desses autores que extraía o conteúdo de sua espiritualidade e de suas homilias, sempre breves, bem preparadas e claras.

Padre piedoso, a cada manhã celebrava às 6h e, aos domingos, atendia às confissões no Santuário. Nunca falhou.

Ao mesmo tempo em que era agressivo, era dotado de grande sensibilidade artística: era um escultor de pedras e decorador com bromélias. Ajardinou o pátio do Seminário e ergueu, pedra sobre pedra, sem pressa, a belíssima Gruta de Nossa Senhora de Lourdes no mesmo pátio. Gostava de conversar, comentar o passado e a decadência dos “tempos atuais”. Era esse seu problema: nada via de bom no Seminário e o externava com agressividade. Foi um homem fiel ao seu sacerdócio, à Igreja e às suas convicções.

Viveu no silêncio, na oração e no trabalho de 1973 a 1989 quando, em 20 de setembro de 1989 Deus o chamou à ressurreição: vivera 83 anos e exercera por 55 anos o ministério sacerdotal. Uma nota de sua última hora de vida: sabendo de sua saúde debilitada, Dom Afonso foi visitá-lo para convencê-lo a internar-se no Hospital. “Não, Excelência!”, foi a resposta. Dom Afonso sugeriu que um médico o visitasse: “Sim, Excelência!”. O Arcebispo saiu satisfeito pela vitória. Em seguida, quando o médico chegou, a porta estava chaveada por dentro e Pe. Afonso já tinha sido atingido por um infarto mortal.

Sepultado no cemitério de Azambuja, hoje repousa no Jazigo dos Padres, em Antônio Carlos.

Deixou um exemplo de correção moral, pobreza de bens materiais e seriedade no ministério.

Pe. José Artulino Besen

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