PADRE JOÃO BATISTA STEINER

Um missionário alemão

Pe. João Batista Steiner (1844-1935)

Pe. João Batista Steiner: um padre que os arquivos demonstram limitado, mas que no esforço de uma longa vida adquiriu méritos pelo trabalho na Igreja em Santa Catarina. Como penitência por alguns erros aceitou ser isolado pelos padres e pouco valorizado pelo povo. Nasceu em Lutzingen, Alemanha, em 17 de julho de 1844. Foi ordenado presbítero na catedral de Rottenburg em 10 de agosto de 1869. Após diversas capelanias, em 1882 foi nomeado pároco em Stockheim.

Chegou ao Brasil em 1884, em 04 de junho recebendo jurisdição em Santa Catarina conferida senhor Bispo do Rio de Janeiro Dom Pedro Maria de Lacerda, a quem estava sujeito o território catarinense.

De 08 de abril de 1888 a 1º. de fevereiro de 1902 foi vigário na tradicional paróquia alemã de São Pedro de Alcântara. Aproveitando as leis de naturalização e decidido a não mais retornar à Alemanha, em 12 de junho de 1888 recebeu Carta de Naturalização.

Devido a incêndio doloso no arquivo paroquial de São Pedro, nada se tem de sua passagem por ali.

Em 06 de maio de 1902 foi nomeado coadjutor de Itajaí, Penha e Camboriú. Em 08 de setembro de 1903, coadjutor de São José, com residência em Palhoça. Devido à presença, ali, de três padres franciscanos, sua presença não era mais tão necessária, motivo pelo qual pede para ser coadjutor de Santo Amaro com residência em Teresópolis, o que lhe é consentido em 04 de outubro de 1904, sendo provisionado como coadjutor do Curato de Teresópolis (incluindo o Alto Capivari-São Bonifácio), que era administrado pelos franciscanos de Santo Amaro.

Por problemas pessoais de comportamento, no início de 1907 foi obrigado a fazer um retiro com os jesuítas de Nova Trento. Após isso, sob condições informadas ao pároco em 20 de março de 1907, trabalhou como coadjutor de Tijucas, São João Batista e Porto Belo.

Primeiro Capelão-Cura de Vargem do Cedro

De 12 de outubro de 1907 a 15 de abril de 1909 exerceu o ministério de vigário de São João Batista, Imaruí. Devido a doenças que mataram muitos moradores, Pe. Steiner, com receio do contágio, pediu para se deslocar a Vargem do Cedro em 27 de junho de 1910. Desta data a 1920 foi o primeiro Capelão-Cura de Vargem do Cedro que, em 15 de dezembro de 1911 teve anexadas as capelas de São Martinho e São João.

Em 20 de novembro de 1920 Pe. Othmar Baumeister, dehoniano que trabalhava em Tubarão, escreveu a Dom Joaquim Domingues de Oliveira a respeito de pais de Rio Fortuna que vieram se queixar do comportamento afetivo de Pe. Steiner, algo muito sério. Dom Joaquim o encarregou de investigação que confirmaram as denúncias e assim, em 05 de fevereiro de 1921 Pe. Steiner foi suspenso de todas as suas ordens, declarado infame, e privado de qualquer ofício, benefício ou função que tenha, obrigado à residência em Imaruí. A pedido do Pe. Antônio Mathias, vigário de Imaruí, em 15 outubro de 1921 recebeu licença de celebrar. Apesar do rigor da pena, em sua caridade Dom Joaquim encaminhou-lhe uma doação de 50$000 réis para cinco missas, pão para esse ancião de 76 anos.

Em 6 de abril de 1922 passa por grandes sofrimentos psicológicos, morais e vive em extrema penúria, pedindo socorro ao bispo diocesano: “O suplicante está sofrendo, de modo terrível, de melancolia proveniente de arrependimento e contrição e violentas e contínuas tentações para desesperação”. Depressão em estado puro. Compassivo, Dom Joaquim em 21 de dezembro de 1923 o nomeia coadjutor do Curato de Teresópolis e, em 03 de março de 1924 recebe autorização para atender às capelas nova e velha de Santa Maria de Loeffelscheidt, no Alto Capivari.

Em 26 de novembro de 1924 escreve a Dom Joaquim pedindo ser provisionado Cura de São Bonifácio. Está com 79 anos. Queixa-se do Pe. Augusto Schwirling “que tem pouco zelo pastoral e só pensa em trabalhos comunitários, estando agora envolvido com criação de abelhas”. Sugere que ele receba outro local de residência e que os franciscanos assumam Teresópolis, Loeffelscheidt, Rio dos Bugres, Rancho Queimado e Taquara. Alheio às queixas, em 1º de dezembro de 1924 Dom Joaquim o nomeia coadjutor de Teresópolis e São Bonifácio. Em 16 de fevereiro de 1926 pede ser liberado de Loeffelscheidt e Rio dos Bugres: tem mais de 80 anos, não consegue mais fazer visitas pastorais e dar catequese para uma criançada que não sabe nem português nem alemão. Dom Joaquim concorda e em 12 de abril de 1926 o provisiona como coadjutor de Teresópolis. Está de bem com o Pe. Schwirling, que assume as duas capelas. Em 22 de novembro de 1926 Loeffelscheidt é anexada a Santo Amaro.

Um padre velho e doente

Em 1927 o pobre do velho Pe. Steiner cai do cavalo e desloca a coxa, ficando impedido de celebrar. É nomeado coadjutor de Teresópolis e Alto Capivari e em 28 de fevereiro de 1929 mas liberado do Alto Capivari. Em 08 de março de 1930, pede para ser liberado de Teresópolis e nomeado coadjutor de São Bonifácio. Tem 85 anos e não consegue mais visitar os doentes. Está com catarata e sofre dos rins. Dom Joaquim apenas consente que escolha onde queira morar e Pe. Steiner, em 21 de maio de 1930 pede para residir em Santa Maria, Alto Biguaçu, como padre particular, residindo na casa alugada e ainda não ocupada de Antônio Scherer. Sua manutenção seria dada pelas missas que o vigário de São Pedro não conseguisse celebrar. Ali tinha trabalhado no início de seu ministério em Santa Catarina. Não convencido, em 26 de maio Dom Joaquim escreve que proponha o mesmo acordo ao Pe. Schwirling, pois tinha compromisso com Teresópolis.

Daqui para frente a história do velho e doente Pe João Batista Steiner é uma súplica contínua de socorro. Não pode deixar de trabalhar, pois ficaria sem manutenção. Era pobre numa região pobre. Vejamos: em 29 de abril de 1931 pede a Dom Joaquim para ser coadjutor somente da matriz de Teresópolis, sem a obrigação de visitar as capelas, o que lhe é consentido em 15 de maio de 1931; em 12 de dezembro de 1931 pede para ser acolhido com os dehonianos em Rio Fortuna. Dom Joaquim consente em 26 de janeiro de 1932, desde que o vigário de Rio Fortuna o aceite; surge a proposta de residência na igreja do Sagrado Coração de Jesus em Armazém do Capivari; em 21 de fevereiro de 1932 o Pe. Jacob Luiz Nebel, vigário de Braço do Norte consente que ele resida em Armazém, e declara-se pronto a cuidar do Pe. Steiner, no que é autorizado por Dom Joaquim; em 1º. de março de 1932 pede a provisão de capelão da capela do Sagrado Coração de Jesus de Armazém do Capivari mas, em 26 de abril Dom Joaquim é informado que os brasileiros não estão satisfeitos que a pequena capela alemã de Armazém tenha missa dominical e a capela maior de São José do Braço do Norte, dos brasileiros, não tenha.

Em 28 de abril de 1932 Dom Joaquim autoriza Pe. Steiner a deixar Teresópolis e ir residir com o Pe. Nebel de Braço do Norte, que cuidará bem dele; Pe. Steiner agradece as ofertas do Pe. Nebel, e acha que não vai dar certo: as despesas serão aumentadas e logo ele estará na rua da miséria. Prefere ficar em Teresópolis; em 08 de março de 1933, doente, incapacitado para visitar os doentes do interior, pede novamente para ser provisionado na capela de Armazém. Muda de idéia. Em 29 de maio a Cúria lhe propõe residir no Braço do Norte: Pe. Nebel lhe dará casa separada e toda a manutenção.

Com 89 anos, em 11 de novembro de 1933 pede a Dom Joaquim liberá-lo de Teresópolis e dar-lhe licença para ir morar como particular em Vargem do Cedro, pois o Pe. Gabriel Lux, dehoniano, o aceita. Depois prefere 30 dias de descanso em Braço do Norte. Pe. Steiner sofre agora das cataratas, dos rins e da bexiga, sem condições de viajar. Em 11 de abril de 1934 pede que Teresópolis seja entregue aos franciscanos. Ele renunciaria ao cargo de coadjutor, sugerindo residir na casa paroquial em Teresópolis. Consultado, Pe. Schwirling consente. Pe. Steiner pode rezar uma Missa no domingo, permitindo que apenas leia a Epístola ou o Evangelho, sem pregação.

Em 6 de junho de 1935 recebeu, em testamento, de Gertrudes Schmitz, uma doação que estava depositada na Caixa Econômica de Laguna. Era tarde, infelizmente.

Pe. João Batista Steiner faleceu em Teresópolis em 13 de junho de 1935 às 17h, sendo sepultado no dia seguinte às 15h. Viveu 91 anos, dos quais 66 como padre e 51 no Brasil. Humilde, limitado, pobre, nada deixou a não ser a memória de sua dedicação e as dores por que passou para ter um pouco de pão à mesa.

Em 29 de novembro de 1969, no centenário de sua ordenação sacerdotal, por iniciativa de Frei Raul Bunn, OFM seus restos mortais foram trasladados para dentro da igreja de Teresópolis.

  1. #1 por Valberto Dirksen em 12 de maio de 2010 - 09:40

    Por ter sido o primeiro capelão-cura de Vargem do Cedro, abrangendo também São Martinho, foi para mim gratificante poder ler e ter maiores informações sobre este sacerdote que, apesar dos problemas pessoais, se dedicou e sacrificou no atendimento ao povo do interior.
    Tenho uma dúvida: o lugar de nascimento é Lustigen, ou seria Lutzingen? Tenho um texto no qual se faz referência que ele é natural da Suábia e consultanto um atlas bem minucioso, não encontrei Lustigen mas a localidade de Lutzingen (na Suábia). Se puder conferir para mim esse dado, ficaria grato.
    Valberto Dirksen

    • #2 por admin em 13 de maio de 2010 - 16:17

      Prof. Valberto,
      muito obrigado por sua correção. De fato, o Pe. Steiner é de Lutzingen, conforme o senhor pesquisou.
      Já corrigimos no texto.
      Grato pela leitura,
      Pe. José

  2. #3 por Kleber Nunes Pereira em 6 de julho de 2020 - 15:58

    Obrigado por esse registro Pe. José Artulino Besen. Você sabe qual a doença que vitimou muitos moradores de Imaruí?

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