PADRE ALBERTO GATTONE

Apóstolo de Blumenau, Gaspar e Brusque

Padre Alberto Gattone

Padre Alberto Gattone

Alberto Francisco Maximiliano Gattone nasceu em Schladen, Baixa Saxônia, Alemanha, em 9 de outubro de 1834. Em Hildesheim foi colega do Pe. Carlos Boegershausen que, em 1857, veio para a região de Joinville. Foi ordenado padre em Hannover em novembro 1858 e, pois anos dedicou a essa cidade as primícias de seu ministério sacerdotal.

Lembrado da amizade com o Pe. Boegershausen, amadureceu o chamado missionário. Em 20 de outubro de 1860 requereu permissão para vir ao Brasil e, em Joinville, Santa Catarina, foi recebido pelo amigo, que o encaminhou para a Colônia São Pedro Apóstolo de Gaspar.

Foi o primeiro vigário de Gaspar, instalando-se no Belchior de 1860 a 1867, quando foi transferido para Brusque. Mas, é importante citar que, já em 1860, quando o Barão von Schneeburg deu início à colonização da Colônia Itajaí-Brusque, chamou-o para atender ao crescente número de famílias católicas. Também celebrou a primeira Missa na capela dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Guabiruba, na verdade uma choça coberta de palhas. Blumenau, Gaspar e Brusque foram seu campo de apostolado.

Animador, fundador e orientador de comunidades

O povoamento de Gaspar antecedeu o progresso da Colônia Blumenau, pois nas áreas de Pocinho, Belchior e atual centro urbano tinham-se instalado 65 famílias, 17 sendo alemãs provenientes de São Pedro de Alcântara, a primeira colonização alemã em Santa Catarina, de 1829. Além disso, havia os brasileiros natos, italianos para ali transferidos, e os belgas da Ilhota. A primeira capela foi construída a quatro quilômetros a Oeste da atual Gaspar, na margem esquerda do rio Itajaí-açu. Edificados capela e cemitério, em 29 de junho de 1850 o Pe. Francisco Fernandes, vigário do Santíssimo Sacramento de Itajaí, tinha celebrado a primeira Missa e festa de São Pedro.

Pelo fato de a colonização do Dr. Hermann Blumenau se prolongar por Gaspar, Garcia e Velha, as comunicações passaram a ser à margem direita do rio Itajaí e, por isso, foi requerido um terreno para a futura igreja matriz na nova área urbana, construção erguida em 1867. Em 1885, novo templo é inaugurado, construído no morro onde hoje se acha a igreja matriz. Demolido em 1942, cedeu lugar à atual igreja, símbolo maior da cidade de Gaspar, com projeto arquitetônico de Simão Gramlich.

Pe. Gattone procurou atender, com zelo, aos primeiros núcleos católicos da Colônia Blumenau, estimulando a construção da primeira igreja, dedicada a São Paulo Apóstolo, cuja festa foi celebrada pela primeira vez em 25 de janeiro de 1865.

É de justiça lembrar que o homem que deixou seu nome para sempre ligado à história da vida religiosa no médio vale do Itajaí foi Frederico Guilherme Schramm, nascido em Erkrath, perto de Düsseldorf, na Alemanha. Aliciado pelo agente do Dr. Blumenau, imigrou para o Brasil em 1848. Aqui, fixou residência com sua família nas terras do atual centro da cidade de Gaspar. Foi o homem da organização religiosa, o promotor do culto dominical.

Acompanhado de um sacristão, Pe. Alberto Gattone visitava a imensa região pastoral de Brusque, Pocinho, Gaspar, Blumenau, Garcia e Testo, a maior parte das viagens feitas por via fluvial. Depois, penetrava pelas picadas, a cavalo ou a pé, recebido pelos católicos espalhados por aqueles sertões e que encontravam na assistência religiosa forças para continuar a vida de desbravadores.

Quando da criação da Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, em 25 de abril de 1861, uma de suas preocupações foi bem delimitá-la, para não haver contestações da Colônia protestante de Blumenau, e pelo fato de não manter relações amigáveis com o Dr. Blumenau. Em 13 de agosto do mesmo ano, estando no Desterro, escreveu ao Governo Provincial para que comunicasse ao Dr. Blumenau que Gaspar nada mais tinha a ver com a Colônia Blumenau: eram duas freguesias independentes.

Para deixar tudo claro, em 16 de novembro de 1861 Dr. Blumenau notificou o Governo provincial que recebeu ordem para que, junto com o Pe. Gattone e o diretor da Colônia Itajaí (Brusque) fazer a demarcação da Freguesia São Pedro Apóstolo.

Em 27 de outubro de 1863, Pe. Gattone escreveu ao Dr. Blumenau para que o nome da futura Freguesia da Colônia Blumenau fosse São Vicente de Paulo de Blumenau, o que não aconteceu, pois se preferiu o mais bíblico de São Paulo Apóstolo.

Os dois grandes homens tiveram diversos atritos. Também surgiram conflitos com o Pastor Osvaldo Hesse, por ter realizado casamentos mistos (carta de 16 de fevereiro de 1863). Em 16 de fevereiro de 1865, o Dr. Blumenau queixou-se ao Presidente da Província que o Pe. Gattone estava semeando discórdias entre católicos e protestantes por não realizar casamentos mistos. Era uma situação ambígua, pois a fé católica era a oficial do Império brasileiro, mas as colônias protestantes tinham pastor mantido pelo mesmo Império. Foram os tratados de imigração que estabeleceram essa ambigüidade.

Padre Gattone atuou em Gaspar de 1860 a 1867. Abriu também uma escola, de curta duração, pois estava fraco e doente, e o excesso de trabalho provocou-lhe hemorragias. Sua vida de penitência também o enfraqueceu: muitas vezes dormia no assoalho e um livro lhe servia de travesseiro.

Pe. Alberto Gattone era muito amado pelo povo católico e suas pregações animavam e orientavam a vida das nascentes comunidades. Conseguia dirigir-se aos adultos e crianças, transmitindo alegria e firmeza na fé. A isso se somava o principal: o exemplo de sua vida. Era um homem de oração, mortificação e grande amor ao próximo. Após as Celebrações, entretinha-se com as pessoas para animá-las e consolá-las nos desafios normais na vida do imigrante.

Segunda Igreja matriz São Luís Gonzaga - Brusque, em estilo gótico, obra de Pe. Gattone.

Segunda Igreja matriz São Luís Gonzaga – Brusque, em estilo gótico, obra de Pe. Gattone.

Em Brusque e no Rio de Janeiro

Padre Henrique Matz, franciscano exclaustrado, tinha assumido a paróquia de São Pedro Apóstolo de Gaspar em 1867, ali permanecendo até 1894, quando faleceu. Em seguida, já na República, os Padres franciscanos da Província de Santa Cruz da Saxônia assumiram a comunidade, tendo como primeiro vigário nomeado Frei Pedro Sinzig, OFM, notável músico, historiador, compositor e organista, em 1900. Estava sendo levado adiante a restauração da Ordem franciscana no Brasil, pois quase fora extinta pela política anti-religiosa do Império.

Em 21 de maio de 1867, Pe. Gattone se fixou definitivamente em Brusque, aí permanecendo até 1882. Também foi vigário encarregado de Itajaí em 1871-1872.

A 31 de julho de 1873, era criada a Freguesia São Luís Gonzaga, formada pelos distritos de Colônia Itajaí (Brusque) e Colônia Príncipe Dom Pedro (Nova Trento), italiana, sendo nomeado seu primeiro pároco o Pe. Alberto Gattone. Na Colônia Príncipe Dom Pedro, hoje Nova Trento, ministrou a Primeira Comunhão a Amábile Visintainer, hoje Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus.

Brusque possuía uma pequena e humilde capela que, ameaçando ruir, foi substituída por outra, grandiosa para a época, com pedra fundamental lançada em 1873 e inaugurada em 1877.

Na sede da Paróquia também incentivou a escola paroquial que, por 11 anos, contou com a dedicação do Prof. Brand, que trouxera de Gaspar. Unia a promoção da educação ao anúncio do Evangelho.

Em 1882 assumiu a paróquia o missionário trentino Pe. Arcângelo Ganarini, que desde 1876 atendia a colônia italiana de Nova Trento com provisão de vigário paroquial de Brusque. Foi grande competente auxiliar de Pe. Gattone e dedicado aos imigrantes italianos.

Cansado e doente, Pe. Alberto Gattone retirou-se para o Rio de Janeiro, sede da diocese (até 1892 Santa Catarina pertencia canonicamente ao Rio). Em reconhecimento por seus trabalhos, recebeu o título de Capelão Honorário do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, Conde de Santa Fé.

Estimado e respeitado, trabalhou na Paróquia da Glória e na Santa Casa de Misericórdia residindo, por um tempo, no Convento Franciscano de Santo Antônio. Mais tarde, doente, residiu no Hospital da Gamboa.

Faleceu no Rio de Janeiro em 28 de janeiro de 1901, aos 67 anos de idade, 40 de sacerdócio e 38 de missionário no vale do Itajaí. Dele afirmou Frei Crisólogo Kampmann, OFM, que lhe ministrou os últimos sacramentos: “Pe. Gattone foi um sacerdote segundo o Coração de Deus”.

Nenhum de nós pode imaginar o que significava em doação, generosidade, cansaço, privações atender a uma região imensa, tendo como referência de comunicação um rio, e espalhados pelos sertões de Blumenau, Gaspar e Brusque, seus paroquianos que falavam português, alemão, italiano, flamengo e polonês. Foi consumido pelo zelo pastoral e pelo Evangelho da caridade.

(Nota: leia-se o texto de Frei Estanislau Schaette, traduzido pelo Pe. Eloy Dorvalino Koch, SCJ:Padre Alberto Francisco Gattone, in BLUMENAU EM CADERNOS, Tomo XLVII, no.07/08, 2006).

Pe. José Artulino Besen

  1. #1 por mauricio roberto vieira em 12 de fevereiro de 2013 - 15:15

    Valeu Padre Besen, pela valiosa colaboração para a história de Gaspar.

  2. #2 por Roger Müller em 10 de maio de 2013 - 01:05

    Padre, saberia informar onde os católicos foram enterrados em gaspar em 1882? tenho um antepassado que estou procurando .obrigado. Roger Müller

  3. #3 por José Artulino Besen em 16 de maio de 2013 - 07:14

    Roger,
    não saberia dar a informação. Creio que o senhor pode obtê-la na fundação Fritz Müller, de Blumenau. Em regra geral, as pessoas eram sepultadas ao redor da igreja.

  4. #4 por João Goedert em 8 de fevereiro de 2016 - 18:46

    Parabéns Pe. José pelo artigo tão bem escrito e que me parece também muito bem documentado. Procurei durante décadas dados sobre Pe. Gattone e encontrava apenas menções vagas a respeito de sua passagem pela região de Gaspar e Brusque. Confesso que meu interesse pelo tema é pessoal dado que meu avô provavelmente nasceu naquele período e pode ter sido batizado por ele. A grande pergunta que tenho é a respeito do paradeiro do livro do Pe. Gattone. Existe este livro de registros?

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