MONS. DR. GERCINO DE SANTANA E OLIVEIRA

Mons. Dr. Gercino Santana de Oliveira

Mons. Dr. Gercino de Santana e Oliveira

Nasceu em Florianópolis em 18 de outubro de 1867, filho do Major do Exército Cândido Francisco de Santana e Oliveira e de Infância Cândida Oliveira . Teve como padrinho de batismo o ilhéu Pe. Eduardo Duarte Silva, futuro bispo de Goiás e Uberaba. Dom Manoel Araújo de Monte Alegre, bispo do Rio de Janeiro, deixara em testamento uma verba para custear os estudos de quatro seminaristas em Roma. Aproveitando a oportunidade, Pe. Eduardo encaminhou seu afilhado Gercino, que estudava no Seminário do Rio Comprido, para Roma, no Pio Latino, onde concluiu os Cursos de Filosofia, Teologia e Direito Canônico; obteve o doutorado em Teologia e Filosofia e o Mestrado em Direito Canônico na Universidade Gregoriana entre 1879 e 1890.

Foi ordenado presbítero em Roma em 20 de dezembro de 1890, ali permanecendo para completar os estudos. Em 1890 Pe. Eduardo viajou para Roma a fim de participar da ordenação episcopal de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti que fora eleito bispo de Goiás. Ordenado em 27 de setembro de 1890, ainda em Roma renunciou à sede de Goiás, por achá-la muito retirada. Então o papa Leão XIII aproveitou a presença do Pe. Eduardo e o nomeou Bispo de Goiás, ordenado em 22 de janeiro de 1891. Foi o primeiro catarinense eleito bispo.

Em Goiás e Uberaba

Sentindo-se com “direitos” sobre o afilhado Pe. Gercino, Dom Eduardo quis levá-lo consigo para Goiás, mas necessitava de aprovação pontifícia, pois era do clero do Rio de Janeiro. Durante audiência com o Papa Leão XIII, levou-o consigo e fez o pedido, ao que o Papa logo aquiesceu: “Quero que acompanhe o Bispo a Goiás”. E assim foi.

E retornando ao Brasil, Pe. Gercino foi Secretário da Diocese de Goiás de 1891 a 1901. Monarquista e devido à amizade com Dom Pedro II, Dom Eduardo sofreu em Goiás, tendo o Comandante militar local ocupado e desapropriado o Seminário diocesano. Dom Eduardo, homem resoluto, não se fez de rogado: sabendo que podia residir em qualquer cidade da diocese, em 1896 iniciou uma viagem de 34 dias, com uma tropa de 60 burros, acompanhado dos 20 seminaristas, dos livros da Diocese e da cozinheira viúva que tinha um bebê que, educado com os seminaristas, morreria em Uberlândia como Monsenhor Eduardo. Chegou triunfalmente em Uberaba em 10 de agosto de 1896. Ali, além de Secretário, Pe. Gercino foi nomeado Vice-reitor e professor do Seminário. A diocese Goiás se estendia até a Diocese de Mariana, com 94 paróquias, 54 sem padre. Em 29 de setembro de 1907 foi criada a Diocese de Uberaba e Dom Eduardo eleito seu primeiro bispo.

Em Santa Catarina e Curitiba

Mons. Dr. Gercino de Santana e Oliveira

Mons. Dr. Gercino de Santana e Oliveira

Chamado pelo bispo de Curitiba, em 1º de maio de 1901 Pe. Gercino foi nomeado pároco de São Sebastião de Tijucas, e vigário encarregado de São João Batista a partir de maio de 1902.

Em seis de dezembro de 1904, Dom Duarte lhe responde à carta de 25 de novembro com elogios: “Fiquei muito satisfeito de ver o belíssimo movimento de sua Paróquia, fruto do zelo inteligente e piedoso com que inaugurou V. Revma. os seus lavores sacerdotais. Nosso Senhor há de frutificar os seus esforços, e esteja certo V. Revma. que na vida paroquial muitos são os dissabores e decepções, mas também a misericórdia de Deus costuma consolar-nos com os resultados inequívocos de um zelo bem orientado”.

Em 12 de janeiro de 1905 Dom Duarte o admoesta, pois lhe chegara a notícia de que no dia 8 de dezembro de 1904, ao invés de celebrar na Imaculada do Moura, Pe. Gercino aceitou pregar em Itajaí; que sai da paróquia sem comunicar os paroquianos e que não comunica aos paroquianos os atos episcopais, taxando-os de impraticáveis. E conclui: “Tem-se que os primeiros anos de sacerdócio são muito preciosos, porque as virtudes ou os vícios que se adquirem permanecem para sempre”. Em 11 de fevereiro de 1905 Dom Duarte recebe as explicações de Pe. Gercino e conclui: “Dou-me não só por satisfeito como ainda por edificado com as suas explicações”.

Mas, Pe. Gercino, percebendo que o bispo dava ouvido a queixas, na mesma carta revida que acusam o bispo de ser dominado pelos padres alemães, velha história. Dom Duarte responde: “V. Revma. sabe que é uma tolice. Graças a Deus, sou brasileiro bastante para conciliar os meus deveres de patriota com as responsabilidades de um Bispo, mas… que fazer? Não é possível fazer padres brasileiros da noite para o dia”.

Era Vigário Geral de Curitiba o Pe. Francisco Auling, alemão; no ano anterior tinha retornado a Münster, após 15 anos dedicados ao Brasil.

Em 1905 Dom Duarte Leopoldo e Silva visitou pastoralmente Santa Catarina e daqui levou, como secretário particular, o Pe. Dr. Gercino de Santana e Oliveira.

Dedicado e competente, mereceu toda a confiança do exigente Dom Eduardo e, em seguida, de Dom João Braga. De 15 de agosto de 1905 a 1º  de dezembro de 1917 foi Secretário geral do Bispado de Curitiba; de 1º de julho de 1906 a 1º de dezembro de 1917, Diretor espiritual do Colégio Sion, de Curitiba.

Joinville – ação pastoral e política

Jubileu de Ouro sacerdotal - 1940

Jubileu de Ouro sacerdotal – 1940

Acontece que em 1908 tinha sido criada a diocese de Florianópolis e Pe. Gercino optou por nela incardinar-se. E assim, em 12 de dezembro de 1917, Dom Joaquim Domingues de Oliveira o chamou para Santa Catarina e nomeou-o pároco de São Francisco Xavier de Joinville e Vigário forâneo, funções que exerceu até 19 de outubro de 1953.

Era o final da primeira Grande Guerra (1914-1918) e Joinville vivia um anti-germanismo doentio. A grande vítima foi o santo e bondoso pároco Pe. José Sundrup, fundador da Santa casa de Misericórdia de Azambuja, do Seminário de São Ludgero e impulsionador do ensino em Joinville. Foi difamado, acusado de traidor da Pátria, teve a casa apedrejada, ameaçado de prisão, sem uma palavra em sua defesa da parte de Dom Joaquim. Ferido mas não derrotado, Pe. Sundrup, após um ano na Alemanha, veio para o Rio de Janeiro e em 1926 foi para Resende, na diocese de Barra do Piraí, onde morreu, idolatrado e respeitado pelo povo, em 1951.

É nesse ambiente que vai exercer o ministério outro grande e generoso sacerdote, o Pe. Gercino. Será um “brasileiro” no meio de alemães, e conquistará a todos, a começar pelas autoridades civis. Dom Joaquim recebeu cartas de autoridades agradecendo a nomeação em nome da totalidade dos católicos “brasileiros”.

Pe. Gercino, porém, era homem de Igreja, não de grupos. Quando em 25 de fevereiro de 1919 foi-lhe comunicada ordem de fechamento da Escola Paroquial de São Bento do Sul, pois se julgava falta de patriotismo haver ali mais matrículas do que nas Escolas Reunidas, logo protestou junto a Dom Joaquim e ao Governador Dr. Hercílio (e orgulhou-se de o Governador ter-lhe enviado um telegrama com 339 palavras…). Também em Joinville, numa ausência de Pe. Gercino em inícios de 1919, Dr. José Boiteux fez o possível para prejudicar o Colégio Paroquial. Motivo: tinha mais matrículas do que a Escola Pública. Assim, determinou que enquanto as matrículas da Escola pública não estivessem completas, o Colégio paroquial não poderia receber novas. Isso era inconstitucional, e as Escolas readquiriram a liberdade de ação. O próprio Juiz de Direito, Dr. Heráclito Ribeiro, tinha três filhos matriculados no Colégio católico.

Logo se percebe que as autoridades passam a respeitar o Padre Doutor e a temer sua capacidade de arregimentar o povo em torno de uma causa.

Prova de seu prestígio: entre 1919 e 1921 foi 2º substituto Superintendente Municipal (prefeito) em Exercício do município de Joinville e Presidente da Junta de Alistamento Militar. Foi por insistência do Prefeito Abdon Batista, mas sem o consentimento antecedente de Dom Joaquim, o que trouxe problemas, logo solucionados por uma boa correspondência. Assumiu o governo municipal em agosto de 1919, com despachos da rotina administrativa, conforme consta do JORNAL DE JOINVILLE ( Anno I, 23 de agosto de 1919, N. 95; id. 19 de março de 1920). No mesmo ano dedicou-se, participando das Comissões, à implantação de um Ginásio em Joinville. Com licença de Dom Joaquim, após consulta à Nunciatura Apostólica, reassumiu a Prefeitura em janeiro de 1920. Em seis de fevereiro de 1922 foi nomeado Chefe escolar do Município de Joinville, permanecendo no posto até 12 de julho de 1927, quando foi exonerado pelo governador Adolfo Konder.

A criação da diocese de Joinville

Apesar de tantas responsabilidades, organizou a criação da diocese de Joinville, o que ocorreu em 17 de janeiro de 1927, sendo instalada em 1929 com a nomeação do primeiro bispo Dom Pio de Freitas, CM, asceta e santo. Em 18 de agosto de 1929 foi Pe. Gercino foi nomeado 1º Vigário Geral.

A casa que ficou Palácio episcopal ele a tinha construído para Casa paroquial e a nova igreja matriz, Catedral. Criou o Boletim Diocesano, um Boletim Mariano das CCMM de Joinvile, em janeiro de 1946.

Em três de outubro de 1940 recebeu o título de Monsenhor. Dali em diante, era o Monsenhor para todos, desaparecendo seu nome. Generoso, calmo, piedoso, firme, era por todos respeitado. Tinha um belo porte, chamando atenção por onde passava. Foram apoteóticos os festejos de seu Áureo Jubileu sacerdotal em 1940. Homenagens sem fim, cada grupo ou associação querendo ser mais criativo.

Residia na Rua do Príncipe. Após as refeições, e no final da vida, quase cego, gostava de sentar-se na velha cadeira de descanso na varanda, ainda conservada, para ver o movimento da rua. Era saudado carinhosamente pelos passantes: “A bênção, Monsenhor!”. Para o povo era um santo.

Faleceu em Joinville em 19 de outubro de 1953, 24 horas após completar 86 anos. Consternação geral daquele povo que por 36 anos dele recebera o afeto e a bênção. Todos choraram sua despedida. Em 1981, seus restos mortais, inteiramente conservados, foram trasladados para a Catedral.

Pe. José Artulino Besen

  1. #1 por Vitor Fernando Miranda em 19 de março de 2015 - 13:14

    Monsenhor Gercino conviveu com minha família durante anos, frequentando nossa casa que ficava na Rua do Principe 766 (Casa Dingee), em Joinville. Toda uma história envolve esta nossa casa, muito frequentada pelos padres da época (por ex: Monsenhor Sebastião Scarzello), que ficava quase ao lado da Catedral, com fundos para a frente da Casa Paroquial (hoje Hotel Anthurium).
    Eu tinha 10 anos quando Monsenhor Gercino faleceu em sua casa, na rua que tem hoje seu nome. Ele morava com sua irmã, D. Miquinha.
    Tenho várias fotos do Monsenhor Gercino e livros que presenteou meus pais Victor e Alice.
    Uma foto dele, sentado em sua cadeira de balanço preferida, que ficava na varanda de minha casa, está agora na minha frente, trazendo recordações profundas e claras de minha vida.
    Nesta foto, ele fuma um charuto e lê o jornal.
    Minha mãe, Alice Helena Dingee de Miranda, casada com Victor Emanuel de Miranda) certa vez deu uma entrevista de página inteira, ao jornal de Joinville, que foi intitulada “Monsenhor Gercino está sentado ao lado de Deus”.
    Nas fotos da reportagem, cujo exemplar também está comigo, aparece o Monsenhor, minha mãe e uma foto da época da reportagem, do padre Bertino.
    Um dos livros presenteados por Monsenhor a meu pai é uma raridade intitulado “Espirito e Physionomia do Bolchevismo”, de René Fülöp Miller .
    Imensas são as recordações daquela época!

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